quarta-feira, dezembro 11, 2024
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Atrás da cortina de fumaça

(*) Fernando Benedito Jr.

O filme “Mera Coincidência” (“Wag the Dog”, 1998, 1h35min, EUA), de Barry Levinson, roteiro de David Mamet, com Dustin Hoffman, Robert De Niro e Denis Leary no elenco, poderia ser considerada uma obra visionária se não fosse o clichê de uma artimanha recorrente na política: criar fatos novos para desviar a atenção de alguma crise ou escândalo que prejudica a imagem do governo e dos governantes. Este artifício é normalmene conhecido como “cortina de fumaça”, mas nos tempos atuais, não serve apenas para encobrir uma situação a qual não se quer dar visibilidade, desviar o foco e chamar a atenção para outro assunto. Trata-se principalmente de “dar munição” para os “soldados” desinformados ou que fazem a contra-informação, seja porque motivo for.

No caso de “Mera Coincidência”, o presidente dos Estados Unidos (Michael Belson), decide criar uma guerra fake na Albânia, totalmente produzida em estúdio, para desviar o foco do escândalo sexual em que se vê envolvido poucos dias antes da reeleição e que lhe tira as chances de vitória. “Deflagrada” a falsa guerra, o presidente entra em cena para tentar resolver o conflito e de vilão do escândalo sexual passa a ser o herói que vai salvar o miserável povo albanês de uma mais uma tragédia.

A semelhança com a realidade brasileira não seria tanta, se por aqui não usassem deste recurso com demasiada repetição, o que o banaliza.

Como as “fake news” tornaram-se uma especialidade da casa, acabou tornando-se um recurso do qual o governo da mentira lança mão a todo instante. Ou seja, já era até para ter caído em desuso e se tornado amplamente condenável pela população. Só que no caso brasileiro não se tornou uma atitude vergonhosa. A fake news não ganhou ares de novo escândalo, de motivo de renúncia como no caso Watergate ou qualquer outro, em lugares onde as pessoas têm decência. Aqui, as mentiras contadas pelo governo reverberam como argumentos que as bases e seguidores do fascismo repetem para justificar suas atrocidades, sua estupidez e permanecer no poder. Daí, esse epíteto de minions. Seguem de forma acrítica tudo que o líder fala, caminhando alegres rumo ao abismo. E certos de que estão fazendo o melhor para si e para o País. Parecem seguidores de Jim Jones em Jonestown. Seu ódio à esquerda, a Lula e ao PT é maior até mesmo que se capacidade de pensar. Então, preferem destruir a sua vida e a dos outros. Optam pela terra arrassada.

Atrás, da “cortina de fumaça” não está apenas a ideia de encobrir algo, mas de criar outra narrativa, dar munição para os soldados do fascismo, alinhar o pensamento da maldade, destruir as colunas de sustentação da democracia.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.

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