sexta-feira, dezembro 6, 2024
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A redução da escala 6×1: uma armadilha para os trabalhadores?

(*) Thales Aguiar

Caros leitores, a atual discussão sobre a redução da escala de trabalho 6×1, com jornadas que seriam ajustadas para menos dias semanais, tem despertado diferentes interpretações. Embora, à primeira vista, a proposta pareça benéfica ao oferecer mais tempo de descanso e qualidade de vida aos trabalhadores, ela também levanta preocupações: estaria esse movimento servindo como pano de fundo para a redução salarial e a aceleração da automação e robotização dos meios de produção? O cenário atual aponta para tendências que merecem essa análise. No Brasil por exemplo, empresas como Carrefour e Americanas já utilizam caixas de autoatendimento reduzindo a necessidade de operadores humanos. Na indústria e fábricas como a da Volkswagen, utilizam robôs para tarefas que antes eram realizadas por operários, como soldagem e montagem. Essas mudanças prometem eficiência e redução de custos. Consequentemente trazem consigo uma sombra: o desemprego estrutural da população.

No cenário global, a China lidera na implantação de robôs industriais, com fábricas que já operam quase inteiramente automatizadas. Nos Estados Unidos, gigantes como Amazon e Tesla investem pesado em robótica e inteligência artificial, substituindo trabalhadores em linhas de produção e logística. Um relatório do Fórum Econômico Mundial estima que até 2025, 85 milhões de empregos poderão ser substituídos por máquinas, enquanto apenas 97 milhões de novos postos poderão surgir, muitas vezes exigindo habilidades técnicas específicas que não estão acessíveis à maioria da força de trabalho atual. A redução de jornadas pode vir acompanhada de uma proporcional diminuição de salários sob o pretexto de que a produtividade do trabalhador será compensada por períodos menores de trabalho. É uma armadilha sutil. Ao prometer alívio na carga horária, o trabalhador se depara com um rendimento insuficiente para manter seu padrão de vida. A adoção massiva de automação significa que, em muitos casos, nem mesmo os postos de trabalho remanescentes estão garantidos. Uma linha de produção automatizada funciona ininterruptamente eliminando não apenas horas extras, mas também a necessidade de escalas flexíveis e trabalhadores em grande número.

Com a substituição de trabalhadores por máquinas, surge um problema econômico crítico: como garantir que as pessoas continuem consumindo se estão desempregadas? Diversos países já discutem a adoção de medidas como a Renda Básica Universal (RBU) que seria paga a todos os cidadãos independentemente de estarem empregados. Experimentos em menor escala foram realizados na Finlândia e no Canadá, com resultados mistos, mas promissores. Financiar uma RBU requer uma reorganização fiscal profunda. No Brasil onde a carga tributária é regressiva, enfrentariam desafios preocupantes. Além disso, a implantação da RBU por si só não resolveria a questão do significado do trabalho na vida das pessoas. As promessas de mais tempo livre e maior eficiência escondem uma verdade incômoda. A substituição do humano pela máquina não necessariamente melhora a vida da sociedade como um todo. Sem políticas públicas que garantam a inclusão social e econômica dos trabalhadores afetados, corremos o risco de criar um sistema controlado por poucos, onde a desigualdade e o desemprego serão generalizados. E você, caro leitor, está preparado para viver em um mundo onde o sistema do capital robotizado dita o ritmo, o consumo e, talvez, até o significado do seu trabalho? Pense nisso.

(*) Thales Aguiar é jornalista e escritor

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