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Um novo ministro ou um vassalo no STF

(*) Fernando Benedito Jr.

Em seu entusiasmo para indicar o novo integrante do Supremo Tribunal Federal, uma instituição que vive sob a ameaça de Bolsonaro e bolsonaristas, o presidente, diversas vezes disse que vai indicar alguém “terrivelmente evangélico”. Já se disse e, repita-se, o certo seria indicar alguém terrivelmente constitucionalista, imparcial, defensor do Estado democrático de direito e não um serviçal, um mordomo do governante de plantão. De preferência alguém que com notório saber jurídico, escolhido numa lista tríplice elaborada por diferentes setores da área jurídica e acadêmica, entre outros critérios que ainda precisam ser melhor formulados, mas com um mandato definido – nem tão pouco tempo que não tivesse como acompanhar e julgar os processos que chegam ao Supremo, nem tanto tempo como este atual, “quase vitalício”.

Em outros momentos, mais, digamos, mais amenos, Bolsonaro disse que indicaria alguém que tomasse cerveja com ele. Ou seja, alguém da cozinha, como se o Supremo fosse uma extensão de sua casa, atualmente o Palácio da Alvorada (espera-se que não por muito tempo).

Jair acabou indicando o advogado-geral da União André Luiz de Almeida Mendonça, de 47 anos. Ele é pastor da Igreja Presbiteriana, mas ainda não se sabe se é “terrivelmente evangélico” ou se bebe cerveja, mas é de se supor que no Estado laico ele deva rezar pela Constituição e não pela Bíblia. De qualquer maneira, como Jair não deve seguir muito tempo no governo, André Mendonça terá a oportunidade de mostrar o que sabe em termos jurídicos e constitucionais, já que não será mais obrigado a defender um só senhor como tem feito de forma sistemática e vergonhosa o fidelíssimo Kássio Nunes Marques.

Seja como for, o novo ministro “terrivelmente evangélico” do STF, se aprovado pelo Senado, terá que pensar bem antes de sentar para tomar cerveja com Jair, o que não chega a ser um pecado (muitos pastores bebem vinho) e o próprio Jesus deu uma forcinha para animar as Bodas de Caná. O caso é que, por várias razões, tal atitude não parece muito conveniente.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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