quinta-feira, outubro 10, 2024
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Um inquérito para ser arquivado

Inquérito da Polícia Federal para apurar tentativa de interferir na Polícia Federal é como criar sapo no pé da lagoa

(*) Fernando Benedito Jr.

O Procurador Geral da República, Augusto Aras – escolhido para o cargo pelo presidente Bolsonaro fora da lista tríplice comumente elaborada pelo Ministério Público para subsidiar a decisão presidencial – é quem vai decidir se irá denunciar o presidente Bolsonaro por corrupção passiva, obstrução de justiça e advocacia administrativa por tentar interferir na autonomia da Polícia Federal. Algo como criar sapo no pé da lagoa.

No inquérito, além do ex-ministro Sérgio Moro e do ex-superintendente da Polícia Federal Maurício Valeixo, serão ouvidos os generais Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Walter Braga Neto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (secretaria de Governo), a deputada Carla Zambelli e delegados federais, todos integrantes da tropa de choque de Bolsonaro, uns atuando a partir do Palácio do Planalto, a deputada da tribuna da Câmara e os delegados federais de seus postos – de onde podem removidos para os confins do Acre ou para qualquer lugar do Brasil profundo. Nesse caso, é aquela história de colocar a raposa para tomar conta do galinheiro.

Não é preciso ser nenhum oráculo, nem fazer malabarismos divinatórios para saber o resultado do inquérito, que já começou torto. E a esta altura acabou se perdendo de seu foco inicial: Bolsonaro queria intervir a Polícia Federal para mudar a bel prazer as superintendências, principalmente a do Rio de Janeiro, onde as investigações das fake news, da rachadinha, das milícias, do assassinato de Marielle, abocanham os calcanhares de seus filhos e o seu próprio.

Nesse ínterim, as fontes palacianas tentam desqualificar Sérgio Moro, debate-se quem está mentindo mais, quem traiu o outro, o que fulano disse no depoimento, o que beltrano vai dizer e como sicrano vai se comportar daqui pra frente.

Outro questionamento, com todo o respeito à seriedade e à autonomia da Polícia Federal, é como pode a própria Polícia Federal apurar de forma isenta a tentativa de violação de sua autonomia com depoimento de pessoas diretamente envolvidas no caso e que são indicadas para depor por um Procurador que desde o primeiro momento tem se comportado como um engavetador da República, que faz salamaleques para o chefe, que a todo momento busca proteger quem o nomeou.

Não é crível que este inquérito resulte em qualquer denúncia mais grave contra o presidente, a julgar pela já manifesta parcialidade do Procurador Geral e pela lista de depoentes. Tem ares de arquivamento e não vai dar pano nem pra manga.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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