segunda-feira, fevereiro 17, 2025
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Tolerar a insanidade de Trump é o mais difícil

Entre as “ações executivas” e a realidade, o novo governo norte-americano vai percorrer um longo caminho; mas, antes vai perturbar a ordem mundial, criar o caos e prejudicar a saúde mental de muita gente

(*) Fernando Benedito Jr.

Entre ameaças, bravatas, contradições e polêmicas, o presidente Donald Trump retorna à Casa Branca deixando o mundo tensionado sobre os rumos de seu novo governo. Não deve ir muito longe.

No primeiro dia de governo, Trump baixou uma série de ações executivas (ver em https://www.whitehouse.gov/presidential-actions/) cujos impactos são discutíveis. O que não é discutível é o atraso que representam em relação aos avanços que a humanidades conquistou nas últimas décadas, desde o fim da Guerra Fria. Aliás, a Guerra Fria é outro atraso que ele parece querer retomar, agora, contra a China.  

Entre as medidas, estão a deportação de imigrantes ilegais. Mandar cada um de volta aos países de origem custará, por cabeça, US$ 14.500. São cerca de 11 milhões de pessoas, de deslocados, sem contar a logística para tamanha onda de deportações. E ainda tem os impactos que tal medidas causaria na economia americana.

Outra ação executiva “elimina” a comunidade LGBTQIA+ (pelo menos no papel), criando um mundo de só de homens e mulheres heterossexuais. É evidentemente impossível tal retrocesso.

Outras ações são no sentido de “Garantir a proteção dos Estados contra invasões” (para expulsar ilegais), “Restaurando nomes que honram a grandeza americana” (mudando nomes como o do Canal do Panamá, que continua sendo do Panamá, renomeando o Monte McKinley, que Obama tinha mudado para Monte Denali), “Designação de cartéis e outras organizações como organizações terroristas estrangeiras e terroristas globais especialmente designados”, “Reformando o processo de contratação federal e restaurando o mérito do serviço público”, “Acabando com os programas governamentais radicais e desperdiçadores de DEI e dar preferência”, “Defendendo as mulheres do extremismo da ideologia de gênero e restaurando a verdade biológica ao governo federal”, entre outras bobagens defendidas pela extrema direita mundial que não cabem mais no mundo atual, ainda que encontrem apoio numa grande parcela da população norte-americana, mas muito longe de ser uma unanimidade.

As bobagens de Trump são perigosas (um de seus atos restaura, justifica e defende a pena de morte – extremismo jurídico bem medieval). Além de ter aliados em seu país, que lhe deram uma vitória esmagadora com absoluto controle do legislativo, ainda tem apoiadores mundo afora, como os lambe-botas da extrema direita brasileira que diante de Donald Trump esquecem todo o seu “patriotismo” de vira-latas. Deixam de orar para pneus na porta de quarteis para orar pelo novo deus norte-americano, Trump, e o novo herói de seu panteão nazista, Elon Musk.

Em outro passo atrás, Trump determinou que os EUA deixem a OMS, ameaça romper com a ONU e a OTAN. Em sua arrogância infinita quer ser o dono do mundo, colocar o “império” americano no centro do universo e dominar o planeta – e além. Ocorre que o mundo se tornou multilateral. A Zona do Euro não vai se desfazer por causa das bravatas idiotas de Trump, nem a China vai deixar de existir por sua causa. E a América Latina, ainda que ele diga que não precisa dela, é quem fornece mão de obra barata para a cadeia da construção civil americana e para os trabalhos pesados e marginalizados que os norte-americanos não fazem.

Quando se esgotarem as bravatas e ameaças (se é que isso vai ter fim, já que ele conta com o apoio irrestrito das big techs), tal como em seu primeiro governo, é que o mundo realmente vai ver o que ele é capaz de fazer. Da primeira vez, não fez nada senão arrumar encrenca, criar cortinas de fumaça e polêmicas em torno da retórica extremista do neo-nazismo. Pode ser que em seu último mandato, antes de fincar a bandeira norte-americana em Marte, coloque em prática a política de terra arrasada. Este é o perigo.

Mas o mais difícil mesmo é ter que tolerar esta outra insanidade durante quatro anos.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.

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