domingo, novembro 24, 2024
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Taylor Swift no Rio de Janeiro

(*) Fernando Benedito Jr.

“Fã morre durante show de Taylor Swift no Rio”, “Turista que estava no Rio para show de Taylor Swift é morto a facadas em assalto em Copacabana”, “Fã exibe queimaduras após cair no estádio do show”. Estas são algumas das manchetes que marcam a passagem da cantora norte-americana Taylor Swift pelo Rio de Janeiro, seguidas de outras não menos desastrosas e lamentáveis como o adiamento do espetáculo aguardado por milhares de fãs, a comoção da artista pela morte de Ana Clara Benevides, o calor extremo (resultado de fenômenos naturais, mas também das mudanças climáticas), a intervenção do governo federal e municipal para garantir a distribuição de água durante o evento. Não há Cristo iluminado que dê jeito.

A repercussão dos fatos negativos ganhou o mundo e reverberou rapidamente na imprensa mundial. Não se falou do repertório, dos sucessos, da megaestrutura, das músicas de Taylor Swift. Não se falou de alegria, de diversão e arte. A imagem que ficou é desastrosa.

Não a imagem de Taylor Swift, embora o adiamento do segundo show tenha deixado irado o enorme fã clube da cantora. Mas do Rio de Janeiro e do Brasil. Principalmente do Rio, que vem de uma chacina de médicos na Barra, de assassinatos diários, de más notícias ora patrocinadas pelo narcotráfico, pelas milícias ou pelas próprias forças de segurança.

Definitivamente, o Rio de Janeiro precisa passar por um profundo processo de regeneração sob o risco de tornar-se – se já não se tornou –

uma cidade e um Estado párias, marginalizados no mundo, sem a pompa, a circunstância, o charme e a beleza que um dia tiveram no imaginário e no mapa turístico e cultural mundial.

De destino escolhido por milhares de turistas que se encantavam com o embalo da Bossa Nova na voz de Tom e Frank Sinatra interpretando “Garota de Ipanema”, com a beleza da Baía de Guanabara, do Cristo Redentor e do Pão-de-açucar, com a sedução encantadora de Copacabana e da orla carioca, a história pulsante da Lapa, de Santa Teresa, com a exuberância do samba, etc; o Rio cada vez mais perde seu glamour para o terror e o medo. Torna-se um destino incerto, onde as pessoas podem ser confundidas com um miliciano e serem assassinadas casualmente ou serem alvos de uma bala perdida, de um latrocínio numa esquina do Leblon.

É neste cenário que Taylor Swift e seus fãs se viram metidos e, mais uma vez, o Rio de Janeiro não escondeu sua realidade. Ao contrário, a escancarou para o mundo. E não foi nada bom.

Tanto que é provável que ela nunca mais volte… Até porque, é possível que não haja mais Rio de Janeiro – ao menos o Rio tão maravilhosamente como o conhecemos outrora.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.

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