Cidades

O governador de nada

(*) Fernando Benedito Jr.

Nada mais simbólico da insignificância do governador de Minas Gerais do que a imagem de um soldado solitário carregando uma coroa de flores pelas ruas desertas de Ouro Preto. Em primeiro lugar, a cena mostra como, ao contrário do que preconiza o pequeno mentecapto, a população da cidade não se expôs ao risco do coronavírus, nem o vírus viajou para ver as igrejas históricas, o casario colonial e contaminar as centenárias ruas de pedras da cidade. Ninguém ouve o governador. Nem o vírus, espera-se. Em segundo, é representativa a coroa de flores que o soldado parece depositar sobre o futuro político do bajulador oficial do presidente da República, que mesmo sem receber nada em troca, faz questão de não assinar. Não assina nada. Se acovarda, como as lideranças mineiras nunca se acovardaram. E, finalmente, é representativo do Estado mínimo defendido pelo político-empresário, novo das antigas. Realmente, tem o mínimo de governança, o mínimo de inteligência, o mínimo de sensatez, o mínimo de competência…

Agora, vem o governador de se acovardar negando-se a assinar a “Carta Aberta à Sociedade Brasileira em Defesa da Democracia”. No documento, os governadores demonstram apoio aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre. “O Fórum Nacional de Governadores manifesta apoio ao Presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre, e ao Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, diante das declarações do Presidente da República, Jair Bolsonaro, sobre a postura dos dois líderes do parlamento brasileiro, afrontando princípios democráticos que fundamentam nossa nação”, lê-se na carta. O documento foi referendado por 20 dos 27 governadores, que defenderam as instituições democráticas contra os ataques de fascistas que querem constranger o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, com apoio do presidente do República, ameaçando um golpe militar, um novo AI-5 e o fechamento das instituições republicanas.

É a segunda vez que o governador do nada faz isso. Na primeira, negou-se a assinar a carta unificada sobre a crise gerada pelo coronavírus no Brasil, endossada por governadores de 25 Estados pedindo apoio, “bom-senso” e parceria do presidente Jair Bolsonaro para conter os efeitos na pandemia. Faz sentido, porque cargas d’água, esse espantalho mineiro haveria de assinar algum documento que pedisse sensatez, coisa que lhe falta até acabar. No texto, os gestores listaram uma série de demandas ao Executivo federal, fizeram um apelo por mais “solidariedade” do presidente e chamaram o Congresso Nacional para assumir a mediação do diálogo em defesa do pacto federativo.

Também desta feita, o fez para não desagradar o presidente, que sequer lhe enviou um respirador, um leito de UTI, talvez alguns poucos testes, se muito. É um alinhamento estúpido que não encontra similar nem entre as hostes de apoiadores de primeira hora do genocida pai, como Ronaldo Caiado, Janaína Pascoal, Joyce Hasselmann, Alexandre Frota, para citar alguns ex-aguerridos.

O estranho alinhamento do governador de nada em Minas ao Planalto, em troca de nada, é inexplicavelmente estranho. Ou então, é burrice mesmo. Vejamos qual novidade os mineiros escolhem da próxima vez.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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