sábado, dezembro 7, 2024
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Estudo mostra que onças resistem no PERD, seu último refúgio

Foto: Onça-pintada flagrada por câmera instalada no Parque

Parque Estadual do Rio Doce é último habitat da onça-pintada em Minas Gerais; estudo atualiza lista de médios e grandes mamíferos do Parque

(DA REDAÇÃO) – O Parque Estadual do Rio Doce, principal habitat das onças parda e pintada, nesta região de Mata Atlântica em Minas Gerais, corre sério risco de extinção, mas conforme estudos e monitoramentos realizados sobre estes animais na unidade de conservação, a pandemia a suspensão das visitações trouxe uma surpresa: o número de onças aumentou. Ainda que tenha sido verificado apenas um caso de procriação, novas espécies, já adultas surgiram, possivelmente vindas de outras localidades.

O PERD

As primeiras iniciativas no sentido de preservar o Parque Estadual do Rio Doce surgiram no início da década de trinta, pelas mãos do arcebispo de Mariana, Dom Helvécio Gomes de Oliveira, conhecido como bispo das matas virgens. Mas só em 1944 tornou-se oficialmente Parque. A área possui 35.976 há no bioma de Mata Atlântica e abrange os municípios de Dionísio, Marliéra e Timóteo.

O Parque Estadual do Rio Doce é primeira unidade de conservação criada no Estado de Minas Gerais e uma das primeiras do país, além de ser considerada a maior área contínua de mata atlântica preservada no Estado, detém rica biodiversidade e árvores centenárias.

Os rios Doce e Piracicaba são os principais corpos d’água da região. E o principal bioma é a mata Atlântica, que adentra regiões com florestas altas e estratificadas, sendo possível encontrar o jequitibá, a garapa, o vinhático e a sapucaia. Também abriga espécies raras e ameaçadas de extinção tanto da flora como da fauna.

As lagoas abrigam uma grande diversidade de peixes, que servem de instrumento para pesquisas sobre a fauna aquática nativa, com espécies como bagre, cará, lambari, cumbaca, manjuba, piabinha, traíra, entre outras.

O professor e biólogo Fernando Cascelli

ESTUDO DAS ONÇAS

As onças pardas e pintadas foram objeto de investigação e estudo realizados pelo biólogo e professor Fernando César Cascelli de Azevedo, cujos resultados foram apresentados no programa “Aves do Perd”, conduzido por Henrique Jr. O biólogo Fernando Cascelli é professor da Universidade Federal de São João del Rei e orientador de doutorandos da UFMG.

O trabalho realizado no Parque Estadual do Rio Doce surgiu após observações e denúncias de que as onças estavam deixando seu habitat para invadir propriedades rurais próximas ao Parque para atacar animais domésticos, principalmente bovinos. As pesquisas sobre “Carnívoros do Parque” foram feitas com apoio do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Plataforma Semente, Programa Ecológico de Longa Duração (PELD), Ministério Público de Minas Gerais, CNPq e Fundação Renova, entre outras instituições.

Ata caminha por estrada no PERD

PRESAS

Para realizar os estudos foram instaladas várias câmeras de vídeo em pontos estratégicos do Parque do Rio Doce, a fim de monitorar o comportamente das onças, suas trilhas e quais suas presas na cadeia alimentar existente no interior do Parque do Rio Doce, como antas, capivaras e aves – jacus e outras espécies. A partir do rastreamento pelas câmeras foi feita uma atualização sobre animais de grande porte, que estava defasada 2016, encontrando cerca de 26 espécies nativas da mata atlântica (ver lista abaixo), mas registrou-se também espécies domésticas, como cães que, eventualmente entram no parque.

Segundo Fernando Cascelli outro resultado apurado pelo estudo é o padrão de comportamento que as onças utilizam, como sua alimentação de catetos, veados, antas e outras presas, que são espécies existente na reserva.

Antes de iniciar os estudos propriamente ditos, no interior do Parque, foram feitas visitas às propriedades para verificar a percepção dos moradores sobre as onças e a questão da predação.

Exemplar de onça-parda registrada pelas câmeras

CAPTURA DE ONÇAS

Uma outra etapa do estudo foi a captura das onças para avaliação de sua situação biológica e colocação de colares de rádio para o monitoramento da espécie e de seus hábitos.

Com os colares de rádio equipados com microchips, monitorados via satélite, foi possível acompanhar a movimentação dos animais e conhecer suas rotas. A captura também permitiu fazer a análise biológica e biométrica das espécies.

Onça-pintada às margens de lagoa na estiagem

ARMADILHAS

A captura das espécies foi feita com armadilhas de caixa de ferro e armadilhas de laços. As caixas de ferro contém uma isca em seu interior e quando a onça tenta pegá-la pisa numa armadilha que aciona a tampa da caixa atrás de si e a prende.

Os laços são colocados escondidos em pequenas clareiras nos caminhos e rotas feitos pelas onças. Como elas são gostam de pisar sobre folhas (por causa do barulho) ou de locais sujos e desconhcidos (preferem o chão limpo, onde não sujam as patas), as armadilhas de laço são colocadas nestes trajetos. “São clareirinhas limpinhas e fofinhas”, brinca Fernando. Tão logo o animal é capturado um sinal é acionado para para ela seja logo resgatada e não se fira debatendo para sair da armadilha.

Uma vez capturadas, as onças são sedadas e permanecem nesta condição por cerca de 1 hora, período no qual são submetidas às análises clínicas, como coleta de amostras de sangue, peso, idade, etc.

O projeto “Carnívoros do Parque capturou 7 onças, entre pintadas e pardas, que receberam coleiras com os microchips que transmitem as informações sobre o comportamento por satélites que passam pelo Parque e armazenam as informações.

Todas as onças foram capturadas com laço. Ariscas e desconfiadas, nenhuma caiu nas armadilhas de caixas de ferro.

Entre os sete animais, uma onça parda com 7 anos e 51 kg e uma onça pintada de 9 anos e 62 kg. Estes animais vivem em torno de 10 a 12 anos na natureza.

TERRITÓRIO

O biólogo Fernando Cascelli explicou ainda que cada coleira tem uma frequência diferente que armazena os dados de uma determinada onça. Desta forma é possível monitorar todo o território que cada uma domina e predomina, para onde vão e de onde vêm. Conforme ele, as onças percorrem grandes territórios.

Cascelli diz que as lagoas ao sul do Parque tem mais água e as do norte tem menos e isso determina em grande parte o comportamente destes grandes felinos porque são à beira das lagoas que elas encontram suas presas, como capivaras, antas, catetos. “Em 2017 teve maior estiagem e as lagoas ao norte estavam praticamente secas. A maior parte estava ao sul e fora do Parque. Estas áreas são importantes para manutenção das onças na região.

Ou seja, elas ficam onde tem mais água, logo, comida”.

DEFESA DO ESPAÇO

Durante o monitoramente uma descoberta curiosa: uma onça parda tinha mais de 2.440 localizações em suas andanças pelo Parque, já uma outra onça parda tinha pouquíssimas localizações.

Ocorre que o macho de onça parda número 1 encontrou com o macho de onça parda nº 2. O número 1 que tinha 51 kg matou o número 2 que tinha 37 kg, era mais novo e mais leve. “Isso é comum na da vida das onças. Por isso tivemos poucas localizações do macho pardo número 2: estava morto”, diz Cascelli.

Outra constatação é de que a onça pintada monitorada gosta mais sul do Parque do que no norte, onde se movimentou menos.

DESENHO AMOSTRAL

Fernando Cascelli explica que a colocação de câmeras em todo o Parque obedece a uma forma aleatória que cobre todo o espaço, em forma de triângulo.

“As câmeras marcadas em branco ficam ao norte e as marcadas em vermelho ficam ao sul. Também são instaladas câmeras em estradas não pavimentadas dentro do parque, onde as onças se deslocam melhor porque não fazem barulho, nem sujam as patas”, explica.

Segundo o biólogo, as onças pintadas estão no topo de cadeia ecológica. “Onde ela é preservada e vive bem, todos animais abaixo estão bem e sobrevivendo bem”, assegura.

O levantamento mostrou que existem menos de 0,11 indivíduo de onça pintada por metro quadrado, isto é, menos de 1 no parque inteiro. Levando em conta a margem de erro, seriam no máximo 2 destes mamíferos em todo o Parque. “É um resultado alarmente, são pouquíssimos elementos de onça pintada, neste monitoramente que começa de 2017”, diz.

Segundo ele, ao longo das estradas, os números de onças pardas e pintadas melhoram, como era de se esperar e as câmeras flagraram de 2 a 8 indivíduos de ambas as espécies.

ESTIMATIVAS

Entre as conclusões, o estudo constata que as estimativas de densidade e abundância representam não apenas uma avaliação temporal das estimativas populacionais de onças, mas sim uma primeira tentativa de rastrear a mudança populacional ao longo do tempo.

Outra constatação é que a possível imigração de animais adultos para a população do PERD e o uso da porção sul do Parque, sugerem que o PERD e áreas modificadas desprotegidas ao redor do parque são cruciais para a conservação de onças-pintadas em toda a Mata Atlântica.

AMOSTRAGEM POPULACIONAL

As amaostragens populacionais das onças no PERD são as seguintes:

Amostragem aleatória 2016/17

Densidade estimada de 0.11 mais ou menos SE 0.28/100km2 (95% IC= 0.02 – 0.69) e uma abundância de 0.4 mais ou menos 0.99 indivíduos

Amostragem sistemática 2017/18

Densidade estimada de 0.55 mais ou menos SE 0.45/100km2 (95% IC= 0.13 – 2.26) e uma abundância de 1.97 mais ou menos 1.63 indivíduos (95% IC= 0,48 – 8.12)

Amostragem sistemática 2020

Densidade estimada de 1.61 mais ou menos SE 0.6/100km2 (95% IC= 0.79 – 3.27) e uma abundância de 5.78 mais ou menos 2.17 indivíduos (95% IC= 2,84 -11.78)

PANDEMIA

Fernando Cascelli destaca que com a pandemia o Parque Estadual do Rio Doce encerrou as atividades am proibidas. Neste período foram instaladas câmeras que permaneceram funcionando durante o ano de 2020. “Assim que foi possível, checamos o resultado, ao longo das mesmas estradas e para nossa supresa, a quantidade onças aumentou. Passou de quase 6 para quase 12. Isso significa que houve aumento significativo de onças pintadas

e uma tendência de crescimento exponencial para a população de onças do PERD nos 2 anos que Esteve fechado.

O estudo contata, entretanto, que só um individuo foi proveniente de reprodução. “Os outros chegaram de outros locais porque já eram adultos.

Em Minas Gerais, a última população existente de onça pintada está no Parque Florestal do Rio Doce”, conclui Fernando Cascelli.

Lista atualiza de mamíferos do PERD

O estudo fez ainda uma lista atualizada de espécies de mamíferos de médio e grande porte do PERD registrados por captura, foto, visualização, rastro, fezes ou vocalização.

São elas:

. Onça-pintada

. Onça-parda

. Jaguatirica

Gato-mourisco

. Irara

. Quati

. Mão-pelada

. Cachorro-do-mato

. Anta

. Veado

. Cateto

. Tamanduá-mirim

.Tatu-canastra

.Tatu-galinha

. Capivara

. Paca

. Cutia

. Tapeti

. Esquilo/Caxinguelê

. Gambá

. Cuíca

. Muriqui

. Bugio/Guariba

. Macaco-prego

.Sauá/Gigó

. Mico

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