domingo, novembro 24, 2024
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A frágil “pax atômica”

(*) Wanderson Monteiro

Os conflitos armados e as guerras são uma constante na história da humanidade desde que o homem surgiu e se multiplicou em famílias e clãs.

Foto: Einstein e Oppenheimer, o “pai” da bomba atômica

Sejam conflitos grandes ou “pequenos”, sempre estamos ouvindo falar sobre guerras e conflitos armados. Consequentemente, também é comum que todos nós ouçamos falar constantemente sobre a “paz universal”. Um período de tempo, que desejamos que seja para sempre, ou, no mínimo, de grande duração, em que todo o mundo, cada canto e cada parte, todo e qualquer país, seja livre de qualquer conflito armado. Um tempo em que as guerras verdadeiramente não existam, por respeitarmos uns aos outros, e não por medo, como a “paz” desfrutará através da “pax atômica”, anunciada por Yuval Harari.

O que Yuval Harari chama de “paz” nada mais é que uma falsa paz, “conquistada” através do medo, e não do respeito mútuo. E, se olharmos os conflitos atuais, veremos que não existe essa paz, e as guerras ainda perduram.

Independentemente da cosmovisão de Yuval Harari, quero destacar o conceito de “paz” apresentado pelo autor em seus livros, que ele chama de “nova paz”. Em sua obra “Homo Deus”, Harari escreve: “A palavra ‘paz’ adquiriu um novo significado. As gerações anteriores pensavam na paz como ausência temporária de guerra. Hoje a vislumbramos como a implausibilidade da guerra”.

O conceito de “paz” de Yuval Harari tem sua base naquilo que ele chama de “pax atômica” que, por sua vez, tem seu fundamento no medo causado pela ameaça nuclear. O autor argumenta em seu livro “Sapiens” que “a ameaça de um holocausto nuclear promove o pacifismo”, e diz que “o Prêmio Nobel da Paz definitivo deveria ter sido dado a Robert Oppenheimer e seus colegas que criaram a bomba atômica”.

Ainda no livro “Sapiens”, Harari diz que “finalmente, há paz de verdade, e não só ausência de guerra”, firmado em seu conceito de que “paz de verdade é quando uma guerra é implausível”. Importante destacar que, para Yuval Harari, a “paz de verdade”, o seu conceito de “nova paz”, não se aplica a conflitos regionais – que Harari chama de “conflitos menores” -, como os que ocorrem no oriente médio – região de origem de Harari -, não se aplica às guerras civis, ou a qualquer tipo de conflito armado que não seja de “nível internacional”: o conceito de “paz” exposto por Harari se aplica tão somente aos grandes conflitos internacionais e a uma guerra mundial, o que, em partes, foi desmentido com a guerra na Ucrânia.

Diante disso vale a pena perguntar: a “Nova Paz” exposta por Yuval Harari em seus livros pode ser considerada uma paz real, como a “paz de verdade”, como diz Harari? Ou podemos enxergá-la e considerá-la como uma falsa ideia de paz?

Particularmente, acredito que a paz que as pessoas do mundo realmente procuram e anseiam vai muito além da “Nova paz” anunciada por Harari. É uma paz que vai muito além da “pax atômica”, conseguida através da ameaça nuclear.

Para demonstrar a redução do impacto das guerras, Harari ainda argumenta que hoje “mais pessoas cometem suicídio do que todas as que, somadas, são mortas por soldados, terroristas e criminosos”. Mas, com um dado tão alarmante dado pelo próprio Yuval Harari, cabe a pergunta: o mundo está em paz? As pessoas estão em paz? Se as pessoas do mundo estivessem realmente em paz as taxas de suicídio seriam tão altas?

A paz que as pessoas procuram vai muito além da improbabilidade de uma guerra internacional, como a “paz” apresentada pelo autor, vai muito além da ausência de guerras por medo das armas nucleares e, essa paz que as pessoas procuram a “pax atômica”, apresentada por Harari, não pode dar.

(*) Wanderson R. Monteiro é escritor e jornalista. Bacharel em Teologia, graduando em Pedagogia.

São Sebastião do Anta – MG

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