Opinião

A destruição normalizada e banalizada

Foto: Na praça da cidade de Avaré, interior de São Paulo, o lenhador é homenageado como um herói do desbravamento

(*) Fernando Benedito Júnior

A destruição ambiental no País está seguindo um curso inexorável em direção ao fim. Não ao fim da destruição, mas ao fim da natureza, ao fim do mundo.  E não se trata de previsão catastrófica ou pessimista. É só ver. Seguindo a “vocação” econômica de cada Estado, região e cada município, depreda-se ao máximo para extração do sumo de tudo que há na terra, nas águas e até nos ares. Suga-se a teta até exaurir e matar a mãe e, claro, morrer também, porque uma vez que o leite secou não haverá mais como alimentar a si próprio.

Os conceitos de recursos renováveis e sociedades autossustentáveis não são suficientes para conter o grau de destruição do meio ambiente no Brasil, assim como não são suficientes as organizações não governamentais, a quantidade de pessoas conscientes, os que lutam pelo futuro, os parlamentares “verdes”, etc. Talvez seja o caso de contar com os próprios capitalistas, com as mineradoras, os latifundiários, os construtores, os banqueiros que financiam e são sócios dos destruidores. Talvez, convertidos, se tornem mais compreensivos e entendam que destruindo o planeta e a natureza estão destruindo o futuro de seus próprios negócios e assim resolvam ser menos predadores.

O problema vai ser quando se sentarem à mesa com os acionistas infiéis para explicar que os dividendos caíram. Bye, bye, CEO.

Minas Gerais está toda esburacada de um lado. São buracos que a mineradoras começaram a alargar nos anos 1700, aprofundaram nos idos de 1800 com os ingleses e perduram até hoje – e, desde aquela época de maneira errônea e destrutiva, já criticava o Barão de Eschwege, diretor-geral das Minas, nomeado por D. João VI.

Saindo pelo Norte de Minas em direção ao Sul da Bahia, os pastos secos nos trazem a certeza de que em breve o sertão vai virar mar, conforme já profetizaram aedos, menestréis, homens santos e outros nem tanto.

Noutra direção, entrando pelo Oeste Paulista, rumo ao Paraná, seguindo ao Sul ou ao Norte, a destruição está sempre no meio do caminho, como aquela pedra irremovível cantada pelo Poeta que lamentava a riqueza de sua cidade indo embora no “Maior Trem do Mundo”. De lá para cá, prezado Poeta, as coisas só pioraram e o retrato na parede ficou ainda mais desbotado, perpendicular, gauche.

E tem a Amazônia, o Pará, o Acre, o Pantanal, tudo pegando fogo, sendo desmatado. Minas, Rio e São Paulo se desmanchando quando chove ou quando se erguem estranhos paredões de poeira. Fenômenos extremos e inexplicáveis ocorrendo e os negacionistas do clima afirmando que “é assim mesmo”, “sempre foi assim desde a época dos meus avós”… E seca,  esfria, esquenta, chove, pega fogo, cai granizo, meteoro. Mas, “é normal”.

A cada dia os aliados do clima e da natureza desaparecem, como se raptados, sequestrados, abduzidos pelo cansaço da luta inglória. Os que ficam tornam-se figuras quixotescas, caricaturas que acabam se tornando irreais, inacreditáveis, estranhos duendes urbanos – na falta de florestas.

Nas sombras do poder, os miseráveis vão fomentando a destruição. Vão repetindo, por desconhecimento e por convicção, a mesma história, lançando mão da mesma e estrúpida narrativa.

Vai indo, cansa.

(*) Fernando Benedito Júnior é editor do DP.

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