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20 de novembro de 2021 Dia da Consciência Negra e dia de dizer Fora Bolsonaro!!!

(*) Vilma Lígia Pereira

Nesta segunda (ou terceira?) década do século 21, devido aos atos de violência crescente pela ação da polícia, ao estado de exceção imposto à comunidade negra pelo atual governo, ao desemprego, à ausência de políticas de saúde, que levou à morte mais de 600.000 brasileiros, à fome, também propostos como política desse desgoverno, somos instados a juntar nosso grito aos de milhões de brasileiros. O sexto movimento pluripartidário que, desde 2019, se organiza contra o genocida que ora ocupa o poder, se junta ao povo negro para unificar o grito de VIVA ZUMBI! E FORA BOLSONARO!!

Como duas pautas aparentemente distintas podem fazer isso é a pergunta que fica martelando na nossa cabeça, nós que todos os anos nos organizamos com nossas pautas, nossas reivindicações e denúncias que incluem desde o descaso com a saúde, a educação a falta de oportunidades no trabalho, no cerceamento do direito de transitar, ir e vir sem sermos parados pelos ditos “agentes de segurança”. Direitos sem os quais, e com a pandemia, ficamos desprovidos numa evidente necropolítica que é a marca de Bolsonaro. Ele, declaradamente, governa para poucos e determina a morte para muitos.

Novembro é o mês que tradicionalmente celebramos a memória de nosso líder maior, Zumbi, que liderou em Palmares na Serra da Barriga – à época território pernambucano -, a primeira experiência de um estado socialista. Zumbi foi assassinado em 20/11/1695. Hoje o Brasil vive o esfacelamento enquanto nação, quando Bolsonaro imprime o terror político, social e econômico.

Infelizmente nosso ensino escolar colonizado não permite que tenhamos conhecimento da verdadeira história de nosso país e nem que os verdadeiros “heróis” sejam conhecidos e suas histórias contadas linearmente, dando vida e consistência ao nosso entendimento para uma formação cidadã. Desde 2003 exige-se que a Lei 10639 seja implementada, porém sua aplicação não é cumprida, sendo facultativa e, o que é pior, a eugenia é o ponto de vista do qual se parte. Isto significa que é a visão eurocêntrica que guia nossos olhares sobre o que

devemos e podemos saber sobre nós brasileiros e nossa formação como povo. Brasil, com sua formação multiétnica, tendo que se olhar num espelho que os europeus ofereceram.

O que isso tem a ver com o FORA BOLSONARO?

O desgoverno de Bolsonaro promoveu a destruição de todas as conquistas sociais que, antes de 2003, nenhum governo fez porque eles só querem o que há 500 anos fazem: invadir, destruir, roubar e matar. Nenhuma política de emancipação para o povo preto e pobre. Só violência. Nenhuma proposta de trabalho, só desmanche e perseguição. Nenhuma preocupação em promover a saúde pública e o acesso, só privatização e a entrega aos empresários. Nenhuma política de enfrentamento à fome, só o apoio ao agronegócio. Um panorama que pensávamos estivesse longe, que tivesse ficado para trás, mas que desde o golpe de 2016, quando tiraram a presidenta Dilma, que o Brasil vive esta situação vulnerável. Das políticas públicas emancipatórias passamos ao assistencialismo. Mas resistimos! Contra uma mídia que noticia o que a branquitude impõe, devemos resistir. Mídia que numa educação colonizada atua como coadjuvante e rebusca a intenção desses grandes grupos que deturpam a notícia criando o vilão, como sendo o pobre, o preto, o indígena, o morador das regiões não assistidas pelo Estado e que são tachadas midiaticamente como centros de violência, desfocando causador pela causa, criminalizando a pobreza, local onde a presença do

Estado se faz, através da polícia desrespeitando o direito das famílias que ali vivem, não porque querem mas porque falta uma política que melhore a condição do povo que paga seus impostos e não recebe o suficiente para sobreviver dignamente. São estas pessoas que estão nas escolas recebendo a educação colonizada que não os enxerga como são, mas como são idealizados numa formação eugênica. Nada falam de nossos intelectuais negros que sempre estavam (e estão!) presentes resistindo através da luta por uma narrativa verdadeira sobre como os fatos se deram em detrimento ao que era contado sobre o povo negro. A história única, que Chimamanda Adtchie fala, e que por muito tempo repetimos, só fala do branco invasor, nada sobre como construímos nossas resistências. Não é simplesmente citar os nomes, mas relatar o que mulheres e homens negros falaram, quando e porque falaram, o que fizeram e porque fizeram. Nada dizem sobre o contexto e a época para ajudar a construir o

pensamento. Citar por citar os “grandes nomes” é inútil. É assim que a branquitude fez toda a vida com seus heróis e pensadores.

Nossa história é feita de resistências.

Em 1971, o escritor e poeta negro, Oliveira Silveira, celebra com outros companheiros negros o Dia da Consciência Negra, no Rio Grande do Sul (ano em que a ONU destaca como sendo para celebrar a Luta do povo negro) e a partir daí o Movimento Negro assume a data 20 de Novembro como o dia da Consciência Negra. Há 50 anos, portanto.

Estamos na década Internacional dos Afrodescendentes (2015-2024) e não podemos esperar ações dos órgãos instituídos para nos falar o que devemos fazer. O Brasil é signatário da Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação realizada em Durban (África do Sul), em 2001, mas na realidade nega o que foi acordado internacionalmente. A Lei no papel, qual o papel da Lei? A pergunta fica no ar. Somos 57% da população no Brasil e não temos a representatividade que nos é devida nos diversos órgãos institucionais e mesmo nos partidos políticos esta representatividade ainda, só com muito esforço é que conseguimos impor nossa presença. Quando se fala em racismo estrutural estamos falando da naturalização dessas ausências, de submissão histórica de um povo e não podemos concordar com isso.

Queremos mostrar nossa religiosidade e nossa cultura sem intolerâncias que são o retrato da falta de conhecimento. Queremos mostrar e viver nossa cultura, nossos valores, nossa visão de mundo. Somos e podemos mais. Não precisamos provar nada a ninguém. Queremos apenas direito de existir, ser o que quisemos e estar onde nossos sonhos nos levarem.

O (des)governo que aí está nega nossa existência, nossas lutas, nossos direitos. E porque tivemos um líder como Zumbi dos Palmares é que nossa indignação aumenta. Porque é possível um Brasil para todas as raças, todos os credos. Vamos às ruas neste 20 de novembro exigir que o genocida caia fora e exaltar nosso líder maior: Viva Zumbi!

Fora, Bolsonaro!

(*) Vilma Lígia Pereira Coletivo Aqualtune

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