O velório foi realizado na igreja matriz São José e o cortejo fúnebre percorreu vários pontos da cidade
TIMÓTEO – O adeus a Padre Abdala foi marcado por muita comoção e lágrimas de despedida, de fiéis e amigos. A bandeira do município foi hasteada a meio mastro no Paço Municipal. O mesmo foi feito na Câmara Municipal.
Os funcionários da Casa e da Prefeitura foram liberados às 15h para acompanhar o velório e sepultamento do pároco, cuja trajetória estará para sempre marcada na história do município
“Padre Abdala Jorge foi incontestavelmente um líder da nossa cidade e para quem devemos prestar todas as homenagens. É uma grande perda, mas sua história e seus feitos permanecerão vivos na memória da população que sempre o admirou”, disse o presidente do Legislativo, Douglas Willkys (PSB).
Também presente ao enterro, o prefeito Sérgio Mendes (PSB) destacou a grande de contribuição de padre Abdala Jorge para o desenvolvimento do município, lembrando que a história do pároco começou antes mesmo da emancipação políticoadministrativo da cidade. Padre Abdala chegou a Timóteo em 1953, época em que município pertencia a Coronel Fabriciano. A emancipação só aconteceu um ano depois.
“O padre Abdala deixa muitas saudades e um modelo de vida que deve ser seguido por todos nós. A nossa comunidade nunca irá se esquecer da garra, força e determinação desse homem que dedicou sua vida a esta cidade”, falou.
Para Mendes, o padre Abdala foi um ícone da cidade, uma referência que se tornou liderança não só religiosa, mas também uma personalidade, que lutou em favor dos pobres e oprimidos, dos que mais precisavam.
MOVIMENTO SINDICAL
A diretoria da Central Única do Trabalhador (CUT) regional Vale do Aço afirmou em nota que o padre será sempre lembrado pela classe trabalhadora da região por sua atuação política e intervenções marcantes.
A mensagem do pároco veiculada em informativo da entidade sindical em outubro de 2003 foi relembrada em função da sua morte. “Caiu o muro de Berlim. A União Soviética se esfacelou, e o capitalismo sempre selvagem mantém neste mundo globalizado sua unidade de força que faz a classe trabalhadora calar, como questão de sobrevivência. O desemprego é mais uma arma do capital. A comemoração do massacre hoje nos traz a lembrança da década de 60, quando alimentamos esperanças da realização do nosso sonho. Democratizar o socialismo e socializar a democracia. Então, nosso sonho não pode morrer. Por isto que alimentamos ainda nossas esperanças. Não aceitamos trocar o nome, nem o conteúdo do socialismo, ele tem que ser trazido para nossa realidade”, escreveu.
LÍDER CORAJOSO
O candidato a prefeito Keisson Drumond (PT) suspendeu as atividades de campanha para acompanhar o velório do padre Abdala Jorge. O vereador afirmou que o pároco foi um grande líder, íntegro e corajoso, que dedicou a maior parte da sua vida à defesa dos trabalhadores e dos mais carentes.
“O padre Abdala foi, por muitos anos, o principal pastor da nossa cidade, sempre defendendo-a e à sua gente, cuidando e protegendo as pessoas. Enfrentou a ditadura, apoiou as lutas dos metalúrgicos e deu uma grande contribuição para a fundação do Partido dos Trabalhadores. Onde houvesse alguma vítima de injustiça ou opressão, lá estava o padre Abdala, lutando e defendendo a justiça e a verdade acima de tudo. Perdemos um verdadeiro herói”, lamentou.
A Igreja São José, situada no Centro Sul de Timóteo, foi a primeira em que padre Abdala celebrou missas,
ainda na década de 50, quando assumiu a paróquia
Influência na luta de classe e no movimento operário
Timóteo – O padre Abdala Jorge era conhecido pelas suas posições polêmicas, tanto em relação às questões religiosas e sociais como políticas. De viés esquerdista, sempre defendeu teses ligadas ao pensamento marxista.
Além dos serviços religiosos que exercia com rigor, tornou-se conhecido por não tolerar atrasos de noivas nos casamentos e pelos sermões contundentes. Ele sempre esteve ligado à vida política e sindical de Timóteo e do Vale do Aço.
Teve papel ativo nas principais lutas dos metalúrgicos de Timóteo, muitas vezes subindo nos palanques para pronunciar discursos combativos, assim como fez em praticamente todas as manifestações e lutas sociais contra a ditadura militar, até a queda do regime em 1985.
Apoiou os principais movimentos de oposição sindical que culminaram com a fundação dos sindicais ligados à Central Única dos Trabalhadores e esteve à frente de praticamente todas as lutas e movimentos operários até início da década de 90, quando a saúde começou a apresentar sinais de debilidade, e Abdala restringiu sua atuação ao trabalho espiritual e intelectual, deixando inúmeros registros e entrevistas sobre a história regional, particularmente sobre o Massacre de Ipatinga, ocorrido em outubro de 1963.
Padre Abdala não escondia seu viés esquerdista, sempre defendendo teses ligadas ao pensamento marxista