Adoradores de Brilhantes Ustra, agora se fingem de “fofinhos” e alegam que não fizeram nada, não sabiam de nada e não viram nada
(*) Fernando Benedito Jr.
O suspeito adentrou à delegacia devidamente conduzido pela polícia e foi logo se adiantando ao delegado de plantão:
– Não matei ninguém, não, dr.!
– Ninguém falou que você matou – retrucou o policial.
É mais ou menos o lance inicial da estratégia dos golpistas. Primeiro pedem anistia para o crime que, supostamente, não cometeram. Depois, vendo que a coisa não tem muito sentido, juram inocência, tentam desqualificar a acusação e enlamear os julgadores.
É público e notório que Bolsonaro jamais aceitou a derrota. Recusou-se a passar a faixa presidencial, viajou a Miami para fingir que não tinha nada a ver com o que se passava no Brasil, diga-se, num ato de covardia (deixou seus seguidores aqui servindo de bucha de canhão enquanto aguardava o resultado da tentativa golpista nas mansões de apoiadores na Flórida). Em mais um ato de canalhice, veio depois dizer, em tom de chacota, que talvez conspirasse com o Mickey e o Pateta, como se o Mickey e o Pateta fossem idiotas a ponto de conspirar com ele.
Foi a Miami, mas só depois de fazer comícios em porta de quartel, de incitar a baderna e o vandalismo, de preparar a minuta do golpe, de usar a PRF para tentar impedir o voto em cidades do NE, de tentar convencer embaixadores de sua aventura tresloucada. Foi a Miami para criar um álibi e depois usá-lo para dizer que estava com o Mickey e o Pateta e que não tinha nada a ver com o que tinha preparado no Brasil.
Aliás, esta fixação da família Bolsonaro por revistas em quadrinhos é recorrente.
Numa frase que lembra o Recruta Zero, o deputado Eduardo Bolsonaro disse certa feita: “Se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo…”
Daí se vê que a fixação não é só por quadrinhos, mas também por eliminar do cenário o STF, o último bastião do estado democrático de Direito.
Agora, os conspiradores golpistas, às voltas com suas defesas no STF, todos muitos “fofinhos”, bonzinhos e humanos que nunca defenderam as torturas de Brilhante Ustra, alegam estar sendo injustiçados, perseguidos, vitimizados pelos homens maus do STF. Tal qual o bandido na delegacia: ninguém fez nada, não sabiam de nada, não viram nada.
Melhor prepararem com robustez suas defesas, teses e estratégias jurídicas. Não parece que o STF vai se deixar intimidar por cabos, soldados, capitães ou generais.
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.
