sexta-feira, dezembro 13, 2024
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O espaço de Elon Musk

Foto: Estação Especial Internacional – Crédito: Nasa

(*) Fernando Benedito Jr.

Já dizia o velho Horácio “naturam expelles furca, tamen usque recurret”, isto é, “expulsa a natureza com um forcado, que ela voltará sempre a correr”. Em linguagem mais prática é mais ou menos represar a água e o dique arrebentar, construir uma barragem de rejeitos da mina e ela explodir destruindo tudo pela frente. Esse bacana do Elon Musk, por exemplo, está brincando com fogo ao lançar seus satélites e naves espaciais de turismo milionário à órbita terrestre.

Desde “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, passando por todos os outros clássicos e recentes lançamentos sobre a expansão das fronteiras além da terra, “Elysium” talvez seja o mais próximo disso que estamos vendo acontecer na realidade: os trilionários, depois de destruirem a Terra constroem para si um condomínio de luxo no espaço enquanto os escravos continuam cavucando o planeta para deixá-los mais ricos. Claro, o lúmpen não tem nenhuma chance de atravessar o portal e chegar a este novo e, brevemente, real conceito de paraíso celeste.

A terra vista da Estação Espacial Internacional

Tem um monte de otários que está achando bacana as aventuras de Elon Musk. Afirmam que está refazendo as viagens de circunavegação, agora, em escala universal; que sua contribuição para a Ciência é indelével e colocará a humanidade em outro patamar de conhecimento. Mais ou menos como a conquista do Oeste norte-americano, a expansão da fronteira agrícola no Brasil, rompendo Amazônia adentro, enfim, estes e outros “grandes” avanços que a humanidade tem presenciado, como as guerras cirúgicas que destroem aldeias e assassinam crianças com seus “danos colaterais”.

O noticiário, entristecido, lamenta que uma bateria de 40 satélites da SpaceX recém lançados no espaço foram destruídos por uma tempestade geomagnética. A internet de alta velocidade pode ficar seriamente prejudicada com o evento, mas, sinceramente, no meu caso, a torcida a favor da tempestade geomagnética foi inevitável.

Os “liberais” acham que é isto mesmo. O espaço pode e deve ser explorado pelos capitalistas, assim como os países foram colonizados e seus povos escravizados nos séculos passados. Como não há quem escravizar nas colônias espaciais, certamente sobrará para os “de baixo”. De novo. Acham bacana essas sacações do Elon Musk, do Zuckerberg, Jeff Bezos, Bill Gates e outros. Não demora e vão plantar soja na Lua.

Agora, venho de saber que pretendem desativar a Estação Espacial Internacional, construída, mantida e operada por astronautas e cientistas de vários países. Se tudo der certo, deve se transformar em hotel de luxo, numa “pousada” de Musk e seus convidados na órbita terrestre. E, de quebra, leva junto todo o acúmulo científico, astrofísico, aeroespacial, de telecomunicações, etc, produzido pela Nasa e pelos países que contribuiram para a criação da Estação Espacial Internacional, para as viagens dos ônibus e naves espaciais. Tudo nas mãos de uma pessoa, de um mesmo conglomerado econômico.

Dizem que os satélites nem a estação espacial não vão cair na cabeça das pessoas na Terra. Por enquanto. Mas, que estão cutucando a natureza com um forcado, estão.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.

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