sábado, novembro 30, 2024
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Nunca a traição à pátria foi tão fiel como em Segredos Oficiais

Desde que o general Colin Powell compareceu à sessão do Conselho de Segurança da ONU, em 5 de fevereiro de 2003, com um vidrinho de água suja, apresentado como prova cabal da existência de armas químicas no Iraque, tentando convencer os estados-membros e a opinião pública mundial sobre a necessidade de declarar guerra ao país, já pairavam muitas dúvidas sobre a eficácia desta intervenção. Duvidava-se sobre as eventuais ligações de Saddam Hussein com a Al Qaida, sobre a existência de plantas industriais de armas de destruição em massa no Iraque, sobre os danos colaterais desta guerra e sobre as reais intenções da aliança da OTAN, capitaneada pelos EUA e Inglaterra.

Este é o tema de “Segredos Oficiais” (Official Secrets, 2019, EUA/Reino Unido, 1h52min, espionagem/suspense), de Gavin Hood, protagonizado por Keira Knighley, Matt Smith e Adam Bakri.

O filme coloca mais uma vez o jornalismo investigativo no centro das atenções quando a tradutora Katherine Gun (Keira Knighley), indignada com as mentiras de Estado para tentar enfiar goela abaixo da opinião pública a invasão do Iraque decide “vazar” um documento que revela a pressão dos EUA e Inglaterra para que os demais países do Conselho de Segurança da ONU apoiem a invasão.

Baseado em fatos reais, o filme narra a história da tradutora Katherine Gun, que depois de passar anos trabalhando como tradutora de mandarim para inglês tornou-se mundialmente famosa ao expôr segredos extremamente confidenciais da Agência de Segurança Nacional (NSA). Depois de obter acesso a memorandos secretos, ela foi capaz de provar que ocorreu uma grande pressão a seis países para que eles votassem a favor da invasão ao Iraque em 2003.

Entregue ao jornal “The Observer” por uma amiga de Katherine, o documento passa por uma série de checagens antes de ser publicado. Após a publicação, o documento é desqualificado por outras fontes, sabotado pela imprensa chapa branca em razão de algumas inconsistências que não comprometiam a essência da denúncia (um termo com diferença entre o inglês britânico e o inglês americano, trocado pelo corretor ortográfico). A delatora é presa e tratada como traidora da pátria, seu marido curdo é ameaçado de deportação e sua vida é virada pelo avesso pelas agências de segurança britânicas, seguindo a lógica perversa de destruir a reputação do denunciador para invalidar e denuncia. Ou de matar o mensageiro, como medida extrema, o que não chega a ser o caso.

Bem amparada juridicamente por uma instituição de defesa de direitos humanos, Katherine é levada ao tribunal britânico por crime de segurança nacional, mas a acusação acaba sendo retirada pela procuradoria. E comprova, 17 anos depois da invasão do Iraque, da execução de Saddam Hussein, da morte de mais de 4 mil soldados da coalizão e de mais de 30 mil civis, que Katherine Gun estava certa. E no final das contas foi na verdade uma heroína.

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