domingo, outubro 6, 2024
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No Roda Viva, Sergio Moro diz que Vaza Jato é “monte de bobajarada”

Durante entrevista, ministro comentou vazamentos do Intercept, repudiou discurso nazista de Roberto Alvim e criticou juiz de garantias

SÃO PAULO – O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, menosprezou os vazamentos noticiados pelo site The Intercept Brasil que mostram diálogos suspeitos com o procurador Deltan Dallagnol no âmbito da Operação Lava Jato. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o ex-juiz chamou o conteúdo de “monte de bobajarada”

Moro repetiu o discurso que utilizou em uma sequência de ocasiões em que se defendeu sobre o caso, tanto na Câmara dos Deputados como no Senado Federal. Ele sustentou que não reconhece a autenticidade das mensagens veiculadas, afirmou que o noticiamento teve como fonte uma operação criminosa de hackeamento e que não houve ninguém condenado injustamente.

“Nunca dei importância para aquilo [os vazamentos], foi um monte de bobajarada. Nunca entendi muito bem aquilo. Agora, foi usado politicamente para tentar soltar criminosos presos, pessoas que haviam sido condenadas por corrupção e, principalmente, enfraquecer politicamente o Ministério da Justiça e Segurança Pública”, disse Moro.

Ele também afirmou que a acusação de conluio na Lava Jato é “farsa” e que houve uma série de absolvições na operação, comprovando, assim, que não havia conduta parcial por parte do julgamento.

O ministro foi perguntado ainda sobre a ocasião em que liberou um áudio que comprovava a intenção da então presidente Dilma Rousseff (PT) a nomear o petista Luiz Inácio Lula da Silva para o comando do Ministério da Casa Civil, em 2016.

Para Moro, sua atuação foi correta. Segundo ele, a Polícia Federal entendeu que havia uma tentativa de obstrução de justiça por parte de Lula, que buscava se refugiar na condição do foro privilegiado para obter benesses judiciais enquanto ministro.

“EPISÓDIO BIZARRO”

Sergio Moro chamou de “episódio bizarro” o caso de reprodução de discurso nazista pelo então chefe da Secretaria Especial de Cultura, Roberto Alvim, em vídeo institucional publicado na quinta-feira 16. Foi a primeira vez em que o ministro se pronunciou publicamente sobre o caso.

Moro havia sido perguntado por que não se posicionou para repudiar a homenagem nazista do então secretário, nem para rechaçar os atentados ao prédio do canal Porta dos Fundos, com autoria reivindicada por um grupo de inspiração fascista.

No caso de Roberto Alvim, Moro justificou que expôs sua opinião internamente, para a cúpula do governo do presidente Jair Bolsonaro. O ministro disse que não se sente obrigado a ser “comentarista sobre tudo” e que respeitou a posição do presidente da República de falar pelo poder Executivo.

“Acho que não cabe a um ministro da Justiça e Segurança Pública ser um comentarista sobre tudo, ser um comentarista político ou atuar como se tivesse a responsabilidade de falar sobre tudo. Nesse caso do secretário de Cultura, ao meu ver, foi um episódio bizarro e a situação era insustentável”, avaliou. “Tendo ciência desse episódio, eu dei minha opinião, mas ao presidente. Cabe a ele tomar a decisão. E ele tomou a decisão correta: o secretário foi demitido tão logo pela manhã.”

JUIZ DE GARANTIAS

O ministro também voltou a se opor à instituição do juiz de garantias no pacote anticrime, aprovado no Congresso Nacional e sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro contra a sua vontade.

Segundo ele, a criação da função foi mal planejada porque não houve um estudo que previsse os impactos nas comarcas.

“A Câmara, com todo o respeito, inseriu essa reforma de maneira açodada. Quantas comarcas de 1ª instância têm apenas um juiz? Nós sequer sabemos o impacto disso nas outras comarcas. Ao analisar o texto da lei, há imperfeições técnicas”, disse Moro, sem avaliar se haverá melhora ou piora a partir da medida.

Ele também rejeitou a tese de que teria sido intimidado com a criação da função. Defensores do novo posto pregam a imposição de freios a juízes que conduzem processos ao sabor da opinião pública.

“Não sou mais juiz. Eu não estou mais na Justiça, não sou afetado”, disse Moro. “No caso do juiz das garantias, por ser uma mudança estrutural tão significativa, mas tão mal preparada, eu me senti na obrigação de externar.”

2022

Moro também negou que tenha interesses em uma eventual candidatura à presidência da República, nas eleições de 2022. Questionado se firmaria a posição em um documento registrado no cartório, disse que não vê sentido em assinar um documento desse “porque muitas pessoas assinaram e depois rasgaram”.

“Não tenho esse tipo de ambição. Temos de ter bastante pé no chão”, disse ele. “Essas questões de popularidade, elas vem, vão, passam, e o importante para mim é fazer meu trabalho como ministro da Justiça.”

Ele também negou que esteja disputando uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), por ainda não haver uma vaga disponível.

“Não tem vaga no momento. Não acho muito apropriado discutir vaga sem que exista, de fato, a vaga”, afirmou.

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