terça-feira, novembro 26, 2024
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Ipatinga e a ameaça do coronavírus

(*) Fernando Benedito Jr.

Ainda não está muito claro qual o critério adotado pela Vigilância Epidemiológica de Ipatinga para determinar os casos suspeitos de coronavírus. Contudo, é evidente a discrepância entre o número de suspeitos (cerca de 646), confirmados (1) e descartados (29) e, tanto pior, considerando que a demora no diagnóstico é um grave erro (ainda que muitos casos sejam assintomáticos), assim como o é a demora na confirmação dos casos, já que o vírus pode se propagar rapidamente para uma grande quantidade de pessoas, enquanto o tempo passa.

Sem dúvida, a gravidade da infecção é altamente preocupante, principalmente para as pessoas no grupo de risco, e a necessidade do isolamento social é única medida capaz de conter a propagação do vírus. Portanto, todo cuidado é pouco. Mas, no caso de Ipatinga:

1 – ou se tem uma situação atípica, com um alto índice de contaminados (considerando o grande número de casos suspeitos), o que já deveria ter se desdobrado em casos graves e mesmo mortes,

2 – ou se tem um dado superestimado em razão da falta de critérios para definir os sintomas, o que é igualmente preocupante, seja pela incapacidade do sistema local de saúde de realizar testes rápidos, seja por causa do crescimento exponencial da curva de contaminação que duplica a cada dois dias.

Na dúvida, claro, é melhor errar pelo excesso, mas na primeira hipótese seria necessária a ampliação do número de leitos de UTI, locais de isolamento para contaminados em estado grave, aquisição de respiradouros, contratação de mais profissionais de saúde e aquisição de materiais de proteção para estes trabalhadores (as). Na segunda hipótese, seria necessário realizar a testagem dos casos suspeitos, descartá-los ou confirmá-los rapidamente, iniciar o isolamento e tratamento para evitar a contaminação.

Em ambas as situações, o isolamento social é mais do que necessário. Mas não basta e é preciso ir além.

Outra questão a ser avaliada com mais cuidado é o fato de grande parte dos casos sob suspeita serem de crianças, adolescentes (e outras faixas etárias fora do grupo de risco), estarem mais suscetíveis ao vírus da gripe e a outras doenças respiratórias, como asma, bronquite, rinite, nesta época do ano, após um intenso período chuvoso e de muita umidade, que podem ser agravadas pela poluição. Estas infecções respiratórias podem estar inflando os números, o que também exige mais acuidade.

Só para se ter uma ideia, o Brasil ultrapassou nesta segunda-feira (23) a marca de 1.600 casos confirmados do novo coronavírus. Os números compõem uma curva de crescimento da pandemia muito parecida com a de países da Europa, como Itália, França e Espanha, onde milhares de pessoas já morreram. “Estamos um pouco acima da Alemanha, bem abaixo da Itália e bem afastados da Coreia”, afirmou João Gabbardo, secretário-executivo do ministério da Saúde, frisando que ainda temos poucos casos rastreados e que toda comparação tem que ser feita com cautela.

O biólogo e doutor em microbiologia, Atila Iamarino, disse ao El País que as projeções são feitas em cima de fatores como o comportamento da população diante da doença, quantas pessoas entram em contato umas com as outras e como o vírus se espalha.

Um dos maiores problemas dessa doença, diz Iamarino, é justamente a sua ausência de sintomas. “Quando a China fez lockdown [proibiu a circulação das pessoas], e passou a ir atrás de testar todo mundo, perceberam que, enquanto eles estavam contabilizando só quem ia para o hospital com sintomas sérios, eles perdiam 86% das infecções que estavam acontecendo”, diz. “Até a pessoa procurar um hospital e receber o diagnóstico, nove dias já tinham se passado”.

E a demora em apresentar os sintomas é o que ajuda a tornar o coronavírus tão letal. “79% das transmissões da Covid-19 acontecem antes mesmo de as pessoas terem os sintomas”, diz.

Em Ipatinga, o número de casos suspeitos de coronavírus, a segunda maior do Estado, é assustadora. Neste patamar, e considerando a gravidade da pandemia, é preciso acelerar os resultados dos testes e ampliá-los ao máximo. Além da adoção de medidas para um eventual hecatombe, que, espera-se, não ocorra.

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