(*) Fernando Benedito Jr.
O discurso de Jair Bolsonaro sobre a demissão de Sérgio Moro serviu para esclarecer muitos aspectos já denunciados pelo ex-ministro, mas salta aos olhos a deslealdade, falta de caráter, as mentiras e a confusão mental do presidente expressas num pronunciamento absolutamente truncado e repleto de referências sobre questões pessoais e interferências em órgãos de informação do governo, como Polícia Federal, Abin e Ministério da Defesa.
A interferência na Polícia Federal, principal pivô da crise, foi confirmada por Bolsonaro. É isso mesmo que ele quer: uma Polícia Federal só para si e que ele possa controlar. Ao acender os holofotes sobre este objetivo acaba dificultando o assalto, alertando os demais poderes para esta tentativa autoritária de acabar com a autonomia do órgão e politizá-lo. Mas, segundo Moro, Bolsonaro vai ainda mais longe ao querer interferir em inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal Federal.
Sobre a deslealdade, ressalte-se que a demissão do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, foi publicada na madrugada, sem que o ministro soubesse. Mais uma vez, Moro foi apunhalado pelas costas. E a deslealdade também se evidencia no caso recente dos ex-ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, Gustavo Bebbiano (morto dias depois de ataque cardíaco, sem nenhum gesto de solidariedade e consternação do presidente) e todos seus ex-aliados como Joyce Hasselmann, Janaina Paschoal, Alexandre Frota, Kim Kataguiri, etc.
Na tentativa de desmentir Sérgio Moro, o presidente acabou se empastelando no discurso. Falou sobre a sogra, o filho mais novo, o aquecedor da piscina, Inmetro e taxímetros do Rio de Janeiro. Admitiu que interferiu na Polícia Federal em defesa do filho mais novo, que emprestou e recebeu dinheiro de Queiroz, que exigiu relatórios de inteligência da Polícia Federal sobre assuntos de seu interesse pessoal (alegando que precisava decidir sobre o que está acontecendo no Brasil, tarefa que cabe à Abin), que estava incomodado com a falta de resultados da investigação do caso Adélio, porque Moro se preocupava mais com o caso Marielle (A PF de Sérgio Moro se preocupou mais com quem matou Marielle do que com quem tentou matar o presidente, seu Chefe Supremo, disse Bolsonaro) e também porque Moro nomeou para o Conselho de Segurança Pública a comunista e abortista Lhona Zabó.
Mentiroso, Bolsonaro tentou descontruir a imagem de Moro em vários momentos, mas principalmente quando diz que o ex-ministro queria trocar a saída do ex-diretor da PF pela indicação de ministro do Supremo Tribunal Federal, em novembro.
Em meio ao tiroteio, surgem informações interessantes, muitas delas insinuando o cometimento de crimes envolvendo as altas esferas do governo relacionadas a advocacia administrativa (tráfico de influência), obstrução de justiça e prevaricação, entre outros.
Enquanto o governo vai queimando navios e bandeiras, o País segue à deriva. Mas ainda falta tocar fogo no Posto Ipiranga.
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.