sábado, novembro 2, 2024
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A Lava Jato derrete e os guardiães da moralidade pública se calam

(*) Fernando Benedito Jr.

Uma vez cumprido seu papel de destruir a oposição, tendo como alvo central o PT e como pontos culminantes a prisão de Lula, tirando-o das eleições das eleições de 2018, e a destituição de Dilma Rousseff, no golpe de 2016, depois de um processo de desconstrução das esquerdas e da destruição da reputação de suas principais lideranças, a Operação Lava Jato derrete lentamente. Seus integrantes se demitem, são demitidos e esculhambados. Moídos, veem a reputação construída ao longo de árduos processos forjados ir para o ralo sem nada poderem fazer. Era previsível.

Não menos previsível era a hipocrisia dos lavajatistas.

A ofensiva de combate à corrupção, que paralisou grande parte da economia e algumas das principais empresas do País, prendeu grande parte das lideranças políticas nacionais (a maioria ou mais importantes, de esquerda) acaba sem que se ouça qualquer protesto dos lavajatistas. Bolsonaro, os bolsonaristas e a extrema direita que ascendeu ao poder defendendo o combate a corrupção, idolatrando Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, apoiando os inquéritos viciados e se tornando os lavajatistas guardiães da moralidade pública, se calam piamente diante do desmonte da Operação Lava Jato e suas forças-tarefas. Nada dizem a respeito do pedido de demissão de Deltan, cuja situação ficou insustentável sob a forte pressão do procurador geral Augusto Aras (homem de confiança do presidente), da defenestração de Sérgio Moro do governo Bolsonaro, das interferências na Polícia Federal no Rio para defender as “pequenas estripulias” de Bolsonaro e seus filhos, do desmonte da força-tarefa em São Paulo, das interferências em Curitiba, etc.

Onde estão os honrados lavajatistas verde-amarelos com seus patos gigantes, faixas e cartazes de adoração a Moro, garantia de que não haveria foro? Onde estão os adoradores de Dallagnol que não o deixavam em paz nos aeroportos para tirar aquela selfie e onde estão os patrocinadores de suas caríssimas palestras País afora na cruzada anti-corrupção?

A hipocrisia da pequena e da grande burguesia nacional, levando consigo, de roldão, significativa parcela de gente mal informada e alienada, despossuída de crítica e outros bens, se evidencia com clareza irritante. E, junto, se evidencia, uma orquestração que parece teoria de conspiração, mas tem tudo para ser real: a de que a Lava Jato sempre foi uma força-tarefa destinada a combater a esquerda e seus líderes, com apoio da CIA, FBI, utilizando métodos de Steve Bannon, para devolver o poder à extrema direita. Feito isso, acabou-se sua utilidade, principalmente porque, para ser coerente, teria que continuar investigando os novos governantes, o que não é nada conveniente.

E, por falar em Lava Jato, por que Queiroz depositou R$ 89 mil na conta de Michelle Bolsonaro?

(*) Fernando Benedito Jr. é jornalista e editor do Diário Popular.

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