Opinião

A casa-evento

(*) Fernando Benedito Jr.

A casa que o empresário Anderson Franco construiu no condomínio Village Nobre, em Ipatinga, vem chamando a atenção pela sua magnitude que traz elementos arquitetônicos da Itália, Grécia, Egito, com alguns dos símbolos mais imperiais e faraônicos que estes países legaram à humanidade. Também tem um pouco do palácio da Elsa, como aquela ampla escadaria que leva ao pavimento superior. A mansão é escandalosamente rica. Tanto que tornou-se uma casa-evento. Fosse em local aberto, certamente seria um ponto turístico dos mais visitados de Ipatinga. Infelizmente, é um palácio bem guardado no condomínio que reúne boa parte do PIB ipatinguense, que deve causar uma ciumeira e uma inveja dos diabos, já que a disputa de egos no Village se revela em grande parte na arquitetura das residências locais, cada uma mais chique e portentosa que a outra. Aliás, deveriam abrir o Village para visitação pública.

No mundo da arquitetura são normais as casas-conceito, modelos e padrões que refletem sensações, espaços amplos e abertos que se integram à natureza, ao casos urbano, ao céu, ao inferno… Existem também casas-mal assombradas e as casas que remetem a um estilo arquitetônico, a um padrão de beleza, a um símbolo ou a uma corrente estética.

A casa do Anderson virou uma casa-ostentação, um símbolo do luxo, do exagero que marcou o estilo de vida das famílias quatrocentistas de São Paulo, da breguice endinherada dos novos ricos e socialites cariocas. Anderson Franco vem de uma origem humilde, conquistou seu espaço, enriqueceu e tem seus méritos por isso. Resolveu mostrar o que conquistou na vida e o fez através de uma casa majestosa. Ótimo.

Uma boa parcela da sociedade ipatinguense que teve acesso à casa-evento, gostou do que viu, as redes sociais são só elogios à beleza descomunal, aos vitrais, aos arremates e adornos do palacete no Village Nobre. Realmente muito bacana isso, um mundo novo, coisa hollywoodiana que se costuma ver em Los Angeles, Miami, Mônaco, nas grandes metrópoles brasileiras. Em Ipatinga é novidade. “Melhor ser o primeiro em Ipatinga do que o último em Roma”, diria um grande pensador ipatinguense.

Conhecedor da realidade, Anderson Franco certamente deve estar dando sua contribuição social de alguma outra forma, além de manter um dos planos de saúde mais baratos do Brasil. Menino bom, altruísta, deve estar fazendo filantropias ocultas, para não se exibir.

Mas salta as olhos as contradições. Inclusive, ali mesmo, próximo ao Village, que faz fronteira com outros bairros nem tão nobres assim. Nada que um fosso não resolva.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular

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