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49% das publicações sobre Holocausto no Telegram nega ou distorce fatos

Legenda: Seis milhões de pessoas perderam a vida durante o Holocausto.Legenda: Seis milhões de pessoas perderam a vida durante o Holocausto Foto: © Yad Vashem/US Holocaust Memorial Museum.

(ONU) – O primeiro relatório sobre as distorções e o negacionismo a respeito do Holocausto nas plataformas de mídias sociais foi publicado na última quarta-feira (13) pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e as Nações Unidas, em parceria com o Congresso Judaico Mundial (WJC).

O relatório demonstra que o negacionismo está presente de forma maciça no Telegram, uma plataforma conhecida por sua falta de moderação, mas também ocorre em 19% do conteúdo relacionado ao Holocausto no Twitter, 17% no TikTok, 8% no Facebook e 3% no Instagram.

As entidades alertam sobre os riscos desse negacionismo e defendem que a solução para tal situação passa pelo monitoramento e moderação dos conteúdos pelas plataformas em parceria com especialistas, organizações da sociedade civil e organizações internacionais.

DISTORÇÕES E NEGACIONISMO

A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e as Nações Unidas, em parceria com o Congresso Judaico Mundial (WJC), publicaram em 13 de julho o primeiro relatório sobre as distorções e o negacionismo a respeito do Holocausto nas plataformas de mídias sociais. O relatório revela que esse conteúdo prejudicial está presente em todas as plataformas, mas que a moderação e a educação possibilitam a redução significativa de tais fenômenos.

Como parte de seu plano para combater o negacionismo e as distorções sobre o Holocausto, a UNESCO e as Nações Unidas buscaram mensurar de forma objetiva a extensão desses fenômenos nas redes sociais, em parceria com o WJC. Foram contratados pesquisadores do Oxford Internet Institute para identificar e analisar quatro mil postagens relacionadas ao Holocausto nas cinco plataformas principais: Facebook, Instagram, Telegram, TikTok e Twitter.

TELEGRAM

O relatório demonstra que o negacionismo e as distorções a respeito do Holocausto ocorrem de forma maciça no Telegram, uma plataforma conhecida por sua falta de moderação e de diretrizes claras para seus usuários. Quase metade (49%) do conteúdo relacionado ao Holocausto publicado nessa plataforma nega ou distorce os fatos. A taxa aumenta para mais de 80% para mensagens em alemão e para cerca de 50% em inglês e francês. Muitas vezes, essas postagens, que são facilmente acessíveis a pessoas que procuram informações relacionadas ao Holocausto na plataforma, são explicitamente antissemitas.

MODERAÇÃO

Nas plataformas que têm mecanismos de moderação, o negacionismo e as distorções também estão presentes, mas em menor grau. Entre elas, estão 19% do conteúdo relacionado ao Holocausto no Twitter, 17% no TikTok, 8% no Facebook e 3% no Instagram. Entretanto, o falseamento dos fatos sobre o Holocausto agora assume novas formas: os perpetradores aprendem a escapar da moderação de conteúdo, usando memes humorísticos e paródicos como uma estratégia destinada a normalizar ideias antissemitas, por exemplo, tornando essas ideias mais populares.

SOLUÇÕES

O relatório conjunto da UNESCO e das Nações Unidas apresenta uma série de recomendações práticas, que incluem o monitoramento e moderação dos conteúdos que negam ou distorcem o Holocausto pelas plataformas online, em parceria com especialistas, organizações da sociedade civil e organizações internacionais.

Outra recomendação é o redirecionamento e a promoção de informações comprovadas sobre a história do Holocausto, como fazem o Facebook e o TikTok em suas parcerias com a UNESCO e o WJC, com o site aboutholocaust.org.

As plataformas também deveriam trabalhar de forma ativa com professores e sistemas educacionais para desenvolver recursos de ensino e aprendizagem e apoiar a educação para a cidadania digital em escolas, universidades e na educação não formal. Nos últimos anos, a UNESCO produziu orientações técnicas para esse fim, inclusive sobre os tópicos “como abordar o antissemitismo por meio da educação” e “educação sobre o Holocausto e o genocídio”.

ALFABETIZAÇÃO MIDIÁTICA

Os governos, enquanto isso, são incentivados a investir no desenvolvimento da Alfabetização Midiática e Informacional (AMI) e capacitar os estudantes para que interpretem e avaliem as (des)informações com pensamento crítico, conforme sugerido no relatório da UNESCO sobre os Futuros da Educação, publicado em sua versão original em novembro de 2021 e, em português, em maio de 2022, com o título “Reimaginar nossos futuros juntos: um novo contrato social para a educação”.

A luta contra as distorções e o negacionismo online relacionados ao Holocausto deve ser integrada de forma sistemática e abrangente aos planos de ação nacionais contra o antissemitismo e o discurso de ódio.

CONFERÊNCIA

A diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay destaca que a falta de moderação em certas plataformas dá espaço para disseminação de ódio. “Nós podemos combater esses fenômenos tomando medidas sobre os conteúdos e educando os usuários. A parceria da UNESCO com o Facebook e o TikTok, que redireciona os usuários para informações comprovadas, é um exemplo de melhor prática. Contudo, não podemos contar apenas com a participação voluntária das plataformas: também precisamos de princípios e diretrizes comuns”, refletiu. “A UNESCO irá liderar esse debate com todas as partes interessadas e, em 2023, realizaremos a primeira conferência mundial dedicada à responsabilidade das plataformas”.

ALERTA GLOBAL

Já o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, ressalta que o problema vai além do próprio Holocausto. “O relatório mostra de que maneira esse negacionismo está intimamente ligado a outras formas de violência online, incluindo aquelas que têm origem no racismo, na misoginia ou na xenofobia. O antissemitismo, o negacionismo e as distorções sobre o Holocausto, assim como outras formas de intolerância e ódio religioso, são um sismógrafo. Quanto mais eles fazem o nosso mundo tremer, maiores são as rachaduras nas fundações da nossa humanidade comum”, alertou. “Hoje, é impossível ignorar essas rachaduras. Este relatório é um alerta urgente que deve nos levar à ação – a buscar a verdade, a memória e a educação –, para construirmos juntos um mundo de paz, dignidade e justiça para todos.”

O presidente do WJC, Ronald S. Lauder, enquanto isso, expressou preocupação com a onda crescente de negacionismo e de distorções a respeito do Holocausto: “Este relatório descreve esse fenômeno preocupante e deixa claro que ele não pode mais ser ignorado. O que é evidente é que, quando as plataformas realizam um esforço conjunto para abordar essa forma específica de discurso de ódio, isso produz resultados”, defendeu.

“Entretanto, é necessário fazer mais para eliminá-lo. À medida que os negadores do Holocausto se tornam mais sofisticados, o mesmo deve acontecer com todos aqueles que trabalham para combater esse mal. O Congresso Judaico Mundial espera continuar apoiando as Nações Unidas e a UNESCO em seus esforços internacionais com vistas à educação sobre o Holocausto e ao combate ao antissemitismo.”

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