RIO (DO UOL) – A Justiça do Rio de Janeiro decretou hoje a prisão temporária dos três homens apontados pela Polícia Civil como os que aparecem em vídeo agredindo o congolês Moïse Kabagambe, 24, até a morte. O crime aconteceu na noite de 24 de janeiro no quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. As prisões, com duração de 30 dias, foram decretadas no Plantão Judiciário.
A DH (Delegacia de Homicídios da Capital) pediu a prisão de Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o Dezenove, Brendon Alexander Luz da Silva, o Totta, e Fábio Pirineus da Silva, o Belo, pelo crime de homicídio duplamente qualificado, com impossibilidade de defesa e meio cruel.
O inquérito ainda não foi concluído. A Polícia Civil busca agora identificar a motivação do crime. A família de Moïse diz que o rapaz foi ao quiosque cobrar R$ 200 por diárias trabalhadas. “Há fortes indícios da autoria do crime de homicídio e a prisão dos indiciados se afigura imprescindível para o êxito das investigações”, diz a juiza Isabel Teresa Pinto Coelho Diniz.
A juíza argumenta que outras testemunhas podem se sentir inseguras para prestar depoimentos caso os homens permaneçam soltos. “Soltos, poderão criar obstáculos à investigação em andamento, com possível coação de testemunhas ou empreendendo fuga”.
Segundo a polícia, os três homens foram identificados a partir das imagens das câmeras de segurança do quiosque e depoimentos de testemunhas. Fábio estava em Paciência, na zona oeste carioca, na casa de familiares. Aleson se entregou na Delegacia de Bangu e afirmou que “não tinha a intenção de matar” Moïse. A Polícia Civil já apreendeu um taco de beisebol, utilizado para espancar o congolês até a morte. De acordo com as investigações, o objeto foi descartado em uma mata perto do quiosque.
O que mostram as imagens
As imagens da câmera de segurança mostram ao menos 20 minutos de agressões —foram desferidas 11 pauladas enquanto a vítima estava em luta corporal com os agressores e outras 15 quando ele já estava imóvel no chão. O vídeo começa com Moïse —que segura uma cadeira— e um homem não identificado com um pedaço de madeira. Ambos dão voltas dentro do quiosque —ora avançando ora recuando. Essa dinâmica se mantém por cerca de 2 minutos, quando outros três homens surgem nas imagens. A essa altura, Moïse já tirou a camisa. O que se segue é uma sessão de espancamento.
Os homens cercam e derrubam Moïse ao chão. Eles usam pedaços de madeira para bater no congolês. Um homem de camiseta vermelha prende o pescoço de Moïse com as pernas. Depois disso, outro homem espanca Moïse com um pedaço de madeira. Ele bate ao menos quatro vezes. O agressor que deu uma “chave de perna” no pescoço de Moïse tenta amarrá-lo, com ajuda de um outro agressor. Com uma espécie de corda, eles amarram as mãos e os pés do congolês.
Dono diz ter saído do local horas antes
O dono do quiosque prestou depoimento ontem na Delegacia de Homicídios do Rio, mas não teve a identidade revelada pela polícia ou pela própria defesa. Em entrevista à imprensa, o advogado Darlan Santos de Almeida afirmou que o dono do quiosque não soube das agressões, pois saiu do Tropicália por volta das 20h30 —as agressões foram registradas por volta de 22h20 de 24 de janeiro. Almeida afirmou que o dono do estabelecimento é “um pai de família, homem bastante religioso, que está sendo perseguido”. Ele negou que os homens sejam funcionários ou seguranças do quiosque.
De acordo com a versão do advogado, o funcionário que testemunhou o crime sem reagir não tinha aparelho celular, por isso não acionou a polícia. As imagens da câmera de segurança que registraram o espancamento de Moïse mostram o funcionário caminhando tranquilamente dentro do quiosque, e até fumando um cigarro, enquanto outros três homens agridem o congolês com pedaços de madeira e chutes.