
Diretor regional do Unicef para a América Latina e Caribe apelou por ação internacional urgente, enfatizando que os menores haitianos estão tendo “vidas interrompidas e futuros apagados”; recrutamento de crianças por grupos armados aumentou 70% em apenas um ano.
(ONU) – O Haiti enfrenta uma das crises humanitárias mais complexas e arrasadoras do mundo, e as crianças estão pagando o preço mais alto.
O alerta foi dado esta terça-feira pelo diretor regional do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, para a América Latina e o Caribe.
RECRUTAMENTO FORÇADO
Roberto Benes pediu uma mobilização urgente para proteger milhões de menores afetados pela violência, deslocamento e colapso dos serviços básicos.
Falando a jornalistas em Nova Iorque, ele destacou que mais 3,3 milhões de crianças precisam de assistência humanitária, o equivalente a três em cada quatro crianças haitianas.
Segundo Benes, o recrutamento de crianças por grupos armados aumentou 70% em apenas um ano, e mais de 1,2 milhão de crianças menores de cinco anos vivem em áreas marcadas pela insegurança alimentar.
Para o diretor regional, estes não são apenas dados, “são vidas interrompidas e futuros apagados”.

CRISE NEGLIGENCIADA
Na semana passada, o Unicef lançou um relatório especial sobre as crianças do Haiti, um documento que Benes descreveu como “não apenas um relatório, mas um apelo à ação”.
Para ele, o relatório é um “holofote sobre uma das crises mais urgentes e negligenciadas do mundo”.
O representante do Unicef pediu o resstabelecimento do acesso humanitário seguro, ampliação imediata do financiamento e abrigo seguro, apoio psicossocial e acesso à educação para as crianças deslocadas.
Ele também sublinhou a necessidade de reconstruir serviços básicos como saúde, educação, água e saneamento.
FAMÍLIA ISOLADAS
De acordo com o relatório, a atual crise é resultado de décadas de choques sucessivos e instabilidade crônica. O texto afirma que a fragilidade política, a desigualdade econômica, os desastres naturais e o enfraquecimento das instituições transformaram o Haiti num país “à beira do colapso”.
O assassinato do presidente Jovenel Moïse em 2021 desencadeou uma onda de violência sem precedentes, deixando um vácuo de poder e permitindo que grupos armados assumissem o controle de bairros, portos e estradas nacionais.
Paralelamente, desastres ambientais, como o terremoto de 2010, o furacão Matthew em 2016 e o terremoto de 2021, destruíram infraestruturas e agravaram o sofrimento da população.
As consequências são devastadoras: milhares de famílias estão isoladas, sem acesso a alimentos, água potável, saúde ou educação. A má nutrição infantil aumentou drasticamente e mais de 1 milhão de crianças vivem sem acesso regular a água segura, o que as expõe a doenças e desnutrição severa.

RISCO DE FOGO CRUZADO
Segundo Benes, o sistema educativo haitiano está em colapso. Conflitos, deslocações e pobreza forçaram o encerramento de escolas e o abandono escolar em massa.
O diretor-regional ressaltou que as crianças no Haiti não sabem se conseguem ir à escola em segurança ou sobreviver ao dia sem ficarem presas num fogo cruzado.
Mais de 1,6 mil escolas são afetadas pela violência, e muitas foram ocupadas por grupos armados. O diretor regional lamentou a realidade haitiana, onde “as escolas que deviam ser refúgios seguros estão fechadas, e os hospitais que deviam curar estão sob ataque constante”.