(*) Fernando Benedito Jr.
As torcidas antifascistas deixam bem claro que neutro é shampoo e que política, religião e futebol não só se discute, como se mistura. Sempre foi e sempre será uma coisa só, porque o ser humano é essencialmente um animal político em todos os sentidos de sua existência, simplesmente porque sobreviver é um ato político, o que se torna ainda mais evidente em tempos de crises, catástrofes, epidemias, pandemias, desastres, quando a solidariedade significa um ato de existência. Ou resistência, como agora. O movimento antifa, que surge nas arquibancadas e ganha as ruas, gera ações políticas, que independentemente de suas posições ideológicas estão aí. O futebol produz lideranças, como Romário e Kalil.
Este discurso pouco convincente de que política, futebol e religião não se discute sempre foi uma balela. Coisa de quem está perdendo o debate, o campeonato e não tem argumentos. Na verdade, é exatamente o contrário. É o que mais se discute. Não são poucos os programas de televisão, as rodas de comentaristas para discutir futebol. E não é só o gol, o esquema tático que debatem. Debatem, eleições nos clubes, a cartolagem a corrupção no futebol, o desempenho do atacante e, claro, do juiz.
Religião, então, nem se discute! Cristo a praticava em verdadeiros comícios em praça aberta, quando expulsa os vendilhões do templo, por exemplo. O que não adiantou muito (parece que não aprenderam nada com ele) porque alguns pastores e a igreja católica pré-reforma transformaram os templos em comércio, em mercadinhos e em grandes atacadistas. Que dizer dos aliados de Bolsonaro, como Malafaia, Edir Macedo e Valdemiro Santiago que vende semente de feijão contra covid-19 (cada um tem a sua cloroquina). O papa tem suas posições, mais honestas, assim como muitos pastores, umbandistas, espíritas, budistas. As Comunidades Eclesiais de Base promoveram revoluções e uma nova maneira de ver os ensinamentos de Cristo (a boa e velha maneira) e transformar o mundo.
A política é o próprio debate. Surge, se alimenta e ressurge da discussão, das formulações e das diferenças para se chegar ao consenso e à síntese daquilo que a sociedade deseja.
O problema não é discutir política, futebol e religião. É fazê-lo de forma democrática, respeitando a Constituição, as instituições democráticas, os princípios que norteiam o convívio social, o outro.
Portanto, antifas, o curso da história tem que seguir sem rumo. Avante!
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.