Iniciativa atende a reivindicação histórica desses povos para proteger suas crenças, rituais, costumes e valores
Foto: Dirigentes da UFMG e representantes de aldeias Maxakali – Crédito: Foca Lisboa
BH – Um passo histórico e carregado de simbolismo foi dado com o lançamento oficial do projeto de extensão Documentação e preservação do sistema de conhecimentos ancestrais do povo Tikmũ’ũn-Maxakali.
A iniciativa será conduzida pela UFMG com as comunidades indígenas nos próximos três anos e atende a uma reivindicação antiga desses povos. O objetivo principal é criar um inventário relativo às referências culturais da etnia e obter o reconhecimento desses conhecimentos como parte do Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais.
A Escola de Música da UFMG estará à frente do projeto, em parceria com a Pró-reitoria de Extensão (Proex), a Fundação de Apoio da UFMG (Fundep), a Formação Intercultural para Educadores Indígenas (Fiei), da Faculdade de Educação (FaE), a Formação Transversal em Saberes Tradicionais e outras instâncias da Universidade.
INVESTIMENTO
O projeto receberá R$ 915 mil, aporte aprovado, neste ano, no edital do Fundo dos Embaixadores dos EUA para a Preservação Cultural, do Departamento de Estado norte-americano. O projeto da UFMG foi o único contemplado no Brasil e um dos cinco na América Latina.
As ações passarão pelas etapas de pesquisa, de sensibilização em cidades próximas das aldeias e de produção de peças, como um filme sobre o patrimônio Tikmũ’ũn-Maxakali.
LUTA E ESPERANÇA
Emocionados, representantes das aldeias de Água Boa e Pradinho, que ficam em Santa Helena de Minas (MG), no Vale do Mucuri, celebraram apresentando alguns de seus bens imateriais: a língua e os cantos. Esses últimos encarnam seres que estão ligados ao território, à floresta, à memória e à saúde.
Sueli Maxakali ressaltou a importância da preservação dos conhecimentos ancestrais de seu povo. “Estou muito feliz. É meu sonho preservar a ‘memória viva’ dos nossos antepassados e transmiti-la às nossas crianças”, ela disse.
O sentimento de reparação foi compartilhado por Marilton Maxakali, que atua como professor de crianças e jovens na aldeia. “Ao longo dos anos, perdemos muitas coisas. Foram muitos assassinatos dos nossos parentes; levaram muitos conhecimentos e sabedoria. Temos agora a esperança de ter tudo de volta”, destacou.
COMPROMISSO E RESISTÊNCIA
O evento que marcou o lançamento da iniciativa teve participação de professores e gestores da UFMG. A reitora Sandra Goulart Almeida lembrou o conjunto de ações da Universidade em diálogo com os povos tradicionais. “Enche-nos de orgulho ser uma instituição pública a serviço desses povos, formando futuros profissionais, mas também comprometida com a reparação histórica pelos males que nós fizemos aos indígenas. Esse é, também, o nosso dever”, afirmou Sandra.
A pró-reitora de Extensão, Claudia Mayorga, ressaltou que a ação faz parte de um conjunto de outras inciativas extensionistas da Universidade, que visam ao fortalecimento de políticas públicas participativas.
Coordenador geral do projeto e professor da Escola de Música, Eduardo Pires Rosse ressaltou que a iniciativa enfrentará o “processo de ‘desertificação’ do povo Maxakali, desde a colonização do nosso país”. Ele acrescentou que, apesar do contexto histórico, “os povos Maxakalis resistem com seu vasto patrimônio. Nós temos muito a aprender com eles nesse diálogo”, afirmou.