(*) Fernando Benedito Jr.
(DA REDAÇÃO) – O cacique José Acácio Serere Xavante, conhecido como cacique Tsereré, preso por liderar atos antidemocráticos em Brasília e incitar movimentos armado contra a posse de Lula, não é o primeiro nem será o último indígena de direita do País. Desde os tempos coloniais quando estes conceitos de direita e esquerda sequer existiam, os indígenas já escolhiam lados opostos aos seus interesses para fazer suas alianças, muitas vezes contra seu próprio povo, dependendo dos interesses, da correlação de forças e objetivos em disputa nos territórios ocupados pelos brancos.
MINISTÉRIO
Nos dias atuais, embora sejam minoria, os apoiadores de Bolsonaro e da extrema direita existem entre os povos originários, ainda que a maioria seja vítima das políticas anti-indigenistas de Bolsonaro e seu governo. Não há como não entender como uma traição coletivos indígenas ou no mínimo, falta de solidariedade, mas ocorre. É uma coisa que têm que resolver entre eles, se é que há alguma solução para divergências que se prolongam desde 1500. Não foram poucos os indígenas escravocratas e capitães-do-mato, ao longo da história.
Talvez o Ministério dos Povos Originários ajude a colocar um termo em divergências tão acentuadas.
NA ONU
Em setembro de 2019 ao discursar na abertura da Assembleia-Geral da ONU, o presidente Jair Bolsonaro apresentou ao mundo a youtuber indígena Ysani Kalapalo. Na época, soou estranho que uma indígena, ainda por cima mulher, viesse a público apoiar um presidente que já havia deixado claro que não demarcaria um milímetro de terra indígena. Bolsonaro também defendia a exploração de ouro e outros metais em suas terras e fazia vistas grossas para violências e para o desmatamento em territórios indígenas.
Ao apresentar Ysani, Bolsonaro, disse que ela falava por “muitos índios brasileiros” e merecia ter mais visibilidade que o cacique Raoni Metuktire, crítico das políticas do governo para a Amazônia a quem o presidente acusou de servir a interesses estrangeiros.
FRUSTRAÇÃO
Algum tempo depois Isany Kalapalo, sem conseguir a projeção que imaginava ter, se disse frustrada. Mas já era tarde. “Estou decepcionada”, disse a ativista de 29 anos – posição que, segundo ela, é compartilhada pela maioria dos indígenas que apoiaram a candidatura de Bolsonaro.
“Está faltando diálogo com as minorias. Eu tinha muita expectativa de que o governo dele seria diferente, mas, depois de esperar e esperar, isso não está acontecendo”, afirma.
GARIMPEIROS
A falta de diálogo, contudo, não desestimulou o apoio de outros indígenas. Muitos são aliados dos brancos nos garimpos de exploração de ouro, na poluição dos rios amazônicos com mercúrio e no desmatamento. Compartilham da ideia de Bolsonaro de possuírem telefones celulares, casas modernas, pick-ups potentes, extrair todo o ouro e nióbio das terras amazônicas e ficarem trilionários.
PASTOR INDÍGENA
Um dos que parecem não ter desanimado (ainda) com Bolsonaro é o cacique-pastor José Acácio Serere Xavante, conhecido como cacique Tsereré, de 42 anos, cuja prisão motivou os protestos em Brasília na noite de segunda-feira (12).
O indígena se apresenta como pastor missionário evangélico e líder indígena xavante da Terra Indígena Parabubura.
Filiado ao Patriota, o cacique foi candidato a prefeito de Campinápolis (MT) em 2020. Com somente 9,7% dos votos, ele não foi eleito.
GOLPISTA
Apoiador de Jair Bolsonaro (PL), o líder indígena usa as redes sociais para fazer críticas e ameaças ao ministro Alexandre de Moraes. Além disso, já publicou vídeos alegando algum tipo de fraude nas eleições 2022 dizendo que “Lula não foi eleito”.
Moraes disse que as condutas do investigado, “amplamente noticiadas na imprensa e divulgadas nas redes sociais, se revestem de agudo grau de gravidade e revelam os riscos decorrentes da sua manutenção em liberdade, uma vez que Serere Xavante convocou expressamente pessoas armadas para impedir a diplomação dos eleitos”.
Segundo a Polícia Federal (PF), Serere Xavante teria realizado manifestações de cunho antidemocrático em diversos locais de Brasília, notadamente em frente ao Congresso Nacional, no Aeroporto Internacional de Brasília (onde invadiram a área de embarque), no centro de compras Park Shopping, na Esplanada dos Ministérios (durante a cerimônia de troca da bandeira nacional e em outros momentos) e em frente ao hotel onde estão hospedados o presidente e o vice-presidente da República eleitos, Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin.
PRISÃO
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a prisão temporária do cacique, pelo prazo inicial de dez dias, pela acusação de condutas ilícitas em atos antidemocráticos.
A decisão se baseou após pedido da Procuradoria-Geral da República e se fundamentou na necessidade de garantia da ordem pública, diante dos indícios da prática dos crimes de ameaça, perseguição e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, previstos no Código Penal.
A PGR disse que ele vem se utilizando da sua posição de cacique do Povo Xavante para arregimentar indígenas e não indígenas para cometer crimes, mediante a ameaça de agressão e perseguição de Lula e dos ministros do STF Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.
Após a prisão do líder indígena, os manifestantes tentaram invadir o prédio da PF em Brasília.
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP