Em Ipatinga apenas 7% da população foi vacinada contra COVID-19. Abaixo da média estadual, que é de 8%, e da nacional que está em 9%. Governador Valadares já imunizou 10% da população, Uberlândia e Juiz de Fora,estão com 12% da população vacinada
(*) Leonardo Patrick*
Não é nenhuma surpresa, ou muito menos, o prefeito de Ipatinga faz questão de esconder seu posicionamento com relação à forma como está conduzindo
o combate à COVID-19 no município. Um de seus principais motes de campanha era justamente a manutenção da abertura do comércio durante a pandemia. Para cumprir tal promessa, Gustavo Nunes (PSL), “desaderiu” ao programa Minas Consciente, flexibilizando o funcionamento das atividades econômicas da cidade. Com o exponencial aumento de casos, internações e óbitos, o município foi obrigatoriamente inserido na Onda Roxa do programa Minas Consciente. As ações tomadas pelo governo municipal são na verdade, reações ao agravamento do cenário epidemiológico municipal. Isso faz com que as medidas restritivas adotadas não sejam bastante para conter o avanço da pandemia na cidade.
Diante da crise de saúde coletiva, em que pese a má gestão e a desarticulação nacional que contribuem e impactam diretamente os municípios, a corrida pela vida exige mais de quem está atuando como gestor dos recursos públicos. Frentes de atuação devem agir simultaneamente em busca da abertura de novos leitos, garantia de insumos e recursos humanos, bem como a compra de vacinas para a população. A fragilidade do Plano Nacional de Imunização abriu margem para que o STF autorizasse Estados e Municípios adquirirem novas doses com vistas a incrementar o PNI. Após esta decisão, acompanhamos vários prefeitos e governadores se organizando em busca de suprir as demandas e garantir com rapidez a compra e a aquisição de mais doses.
É o caso do Consórcio Nordeste, que adquiriu 37 milhões de doses da Sputinik-V, apenas aguardando autorização da ANVISA para uso no Brasil. Outros municípios também foram em busca de somar esforços coletivos para compra de vacinas e aderiram ao CONECTAR, consórcio criado pela Frente Nacional dos Prefeitos e que integram 385 das 853 cidades de Minas Gerais, entre elas nossa vizinha Ipaba. Essa é uma discussão que se estendeu durante todo o mês de março e possibilitou, por exemplo, com que a região metropolitana do Rio de Janeiro pudesse divulgar um calendário de imunização em que se prevê vacinação para pessoas na faixa de 50 anos, já na primeira quinzena de maio.
Para além das iniciativas que vão surgindo a contragosto de quem sequer acredita na existência ou letalidade do vírus, os dados também mostram que é possível otimizar resultados mesmo com a escassez de doses existentes. As distribuições até agora realizadas pelo Plano Nacional de Imunização, com exceção de Manaus, são proporcionais ao contingente populacional de cada cidade/região/estado. Mas isso não se reflete no resultado prático do número de pessoas vacinadas em cada cidade.
Em Ipatinga apenas 7% da população foi vacinada contra COVID-19. Abaixo da média estadual, que é de 8%, e da nacional que está em 9%. Também está atrás de outros municípios com população semelhante ou maior. Como é o caso de Governador Valadares que já imunizou 10% da população, ou Uberlândia e Juiz de Fora, ambas com 12% da população vacinada. Quase o dobro da nossa cidade. Esses números revelam que, além de não estarmos empenhados para o cumprimento das medidas preventivas de combate à COVID-19, tampouco estamos gerindo com eficácia o Plano Nacional de Imunização.
Um cenário que se torna ainda mais preocupante ao lembrarmos que estamos tratando de números referentes à primeira dose da vacina, que sozinha não representa nenhuma proteção contra o novo coronavírus. Até o momento não houve um posicionamento público do governo municipal em relação à aquisição de doses fora do PNI, em regime individual ou em consórcio, o que demonstra que o projeto de lei autorizativo apresentado na Câmara de Ipatinga não é o bastante para que o governo municipal se mobilize na aquisição de novas doses, quando na verdade, o município não trabalha de forma efetiva nem mesmo para otimizar a aplicação das vacinas existentes.
Diante de tanta morosidade, já passou da hora de outros setores se mobilizarem e cobrarem do município mais responsabilidade com a gestão da pandemia, buscando mensurar o resultado de cada ação tomada até agora pelo governo municipal. A exemplo dos casos citados, há mais de um mês a palavra de ordem entre aqueles que prezam pela vida e pela economia é a vacinação em massa. Aqui, por razões ideológicas, infelizmente, seguimos a passos de jabuti manco.
(*) Graduando em Administração Pública pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.