Em uma votação histórica, após três anos e meio de crise, os deputados britânicos adotaram o texto com 330 votos a favor e 231 contra
REINO UNIDO – O acordo do Brexit entre o Reino Unido e a União Europeia (UE), que nesta quinta-feira (9), foi aprovado definitivamente pelo Parlamento britânico, visa a facilitar o divórcio, estabelecendo os direitos dos cidadãos, a conta financeira e como manter aberta a fronteira na ilha da Irlanda. A separação está marcada para 31 de janeiro.
Em uma votação histórica, após três anos e meio de crise, os deputados da Câmara dos Comuns, amplamente dominada pelo primeiro-ministro conservador Boris Johnson, adotaram o texto com 330 votos a favor e 231 contra.
Na próxima semana, o acordo tramitará na Câmara dos Lordes – a câmara alta do Parlamento, antes de ser submetido ao consentimento da rainha. A ratificação no Parlamento Europeu está prevista em 29 de janeiro, dois dias antes da data fatídica.
TRANSIÇÃO
O texto prevê um período transitório até 31 de dezembro de 2020, durante o qual os britânicos seguirão aplicando e sendo beneficiados pelas normas europeias. Pagarão sua contribuição financeira, mas sem participar nas instituições nem na tomada de decisões.
A transição busca evitar uma ruptura abrupta, especialmente para as empresas, e dar tempo para negociar a futura relação entre Londres e a UE, o que se anuncia muito difícil no tempo disponível.
Segundo o acordo, o período pode ser prorrogado até o fim de 2022 no máximo. Mas Johnson rejeita a possibilidade e incluiu, no projeto de lei apresentado aos deputados, um dispositivo que proíbe qualquer extensão da transição.
DIREITO DOS CIDADÃOS
Os 3,2 milhões de europeus que vivem no Reino Unido e o 1,2 milhão de britânicos residentes no continente poderão seguir estudando, trabalhando, recebendo subsídios e reunindo suas famílias como atualmente. Os brasileiros que vivem no Reino Unido também deverão se adaptar ao Brexit.
CONTA BRITÂNICA
O Reino Unido cumprirá os compromissos financeiros assumidos no âmbito do orçamento europeu (2014-2020), que também envolve o período de transição. Em troca se beneficiará dos Fundos Estruturais Europeus e da Política Agrícola Comum.
IRLANDA DO NORTE
A província britânica da Irlanda do Norte permanecerá no território alfandegário do Reino Unido, mas respeitará as regulamentações do mercado único europeu para manter aberta a fronteira terrestre com a vizinha República da Irlanda, país membro da UE. Isto implicará controles regulamentares entre a ilha da Grã-Bretanha e a Irlanda do Norte. O dispositivo provocou a revolta dos unionistas norte-irlandeses do DUP, que o consideram um ataque à integridade do Reino Unido.
Quando produtos procedentes de países terceiros, como os Estados Unidos, destinados a permanecer na província, entrarem na Irlanda do Norte serão aplicadas tarifas britânicas. Caso as mercadorias provenientes de países terceiros sejam destinadas a entrar na UE através da Irlanda do Norte, as autoridades britânicas aplicarão as tarifas da UE.
A Assembleia regional da Irlanda do Norte terá a última palavra sobre a aplicação a longo prazo das regras europeias em seu território, por meio de um mecanismo de “consentimento”. A Assembleia deve aprovar por maioria simples durante o período de transição se deseja aplicar os dispositivos a partir de 1 de janeiro de 2021 e confirmar a cada quatro anos.Se decidir abandonar a regulamentação europeia, o protocolo deixará de ser aplicado depois de dois anos.
ACORDO DE LIVRE COMÉRCIO
Em uma “declaração política” que acompanha o Tratado de Retirada, UE e Reino Unido estabelecem a intenção de alcançar uma relação comercial pós-Brexit “sem tarifas de importação nem cotas”. Em troca, Bruxelas exige “garantias” sobre o respeito de condições de concorrência justas. O objetivo é evitar que o Reino Unido se transforme em um concorrente “desleal” na porta da UE, que não cumpra as normas sociais, fiscais e ambientais do bloco.
No entanto, discrepâncias apareceram mesmo antes do início da negociação. Johnson, que afirma não querer se alinhar às normas europeias, insiste em concluir o acordo de livre comércio antes do final do ano para não prolongar o período de transição.
A nova presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, alertou na quarta-feira 8 que se, por falta de tempo, não for alcançado um acordo completo, o Reino Unido poderá perder o acesso aberto ao mercado único de seu principal parceiro comercial.