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Os pequenos e grandes negócios da família Bolsonaro

O cursinho de “rachadinha” feito no baixo clero não é nada após MBA nestes tempos de vacas gordas

(*) Fernando Benedito Jr.

Oriundo do baixo claro, cuja marca principal é a venda e troca de pequenos favores políticos e parlamentares, cujo contrapartida são cargos públicos, verbas, “rachadinhas” e outros meios ilícitos de enriquecer, a família Bolsonaro leva pela vida estes escusos métodos. Embora tenham ensinado seus bajuladores, seguidores e adoradores a criticar, julgar e condenar aqueles que “mamam” nas tetas do poder público, praticam tais simonias sem nenhum escrúpulo. É um negócio que vem de pai para filho desde o século passado, quando Bolsonaro, o velho, foi eleito pela primeira vez. Daí para cá o negócio só prosperou. Colocar na política e eleger os três filhos foi só o começo, ainda que não tenham muito talento para isso – mas pouco importa.

De lá para cá, também aprenderam a fazer grandes negócios, afinal, não se vive impunemente durante quase 30 anos no parlamento brasileiro sem aprender estas “malícias”. No balcão dos grandes negócios entram as emendas parlamentares e os cargos, em troca de apoio político, como foi feito como os deputados e senadores do chamado Centrão.

Mas são as pequenas migalhas, as mesquinharias que caem da mesa do banquete que chamam a atenção. O caso mais notório foram os R$ 89 mil depositados na conta de Michelle Bolsonaro pelo miliciano laranja Fabrício Queiroz e sua esposa.

Depois veio a história da fantástica loja de chocolates, das “rachadinhas” no gabinete do atual senador Flávio Bolsonaro, também envolvendo Queiroz. Das casas de aluguel no Rio de Janeiro, algumas em áreas dominadas por milícias, Flávio Bolsonaro chegou, enfim, à mansão no Lago Sul, em Brasília.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro, de chapeiro no Maine, por pouco não ganha uma embaixada em Washington. A intensa repercussão do caso acabou abortando a missão, mas não o impediu de continuar fazendo lobby para a indústria de armas. O pai preferiu fazer o mesmo serviço para os laboratórios farmacêuticos fabricantes de cloroquina.

O vereador Carlos Bolsonoro, vira e mexe dá uma incerta, tentando emplacar e ir além das “rachadinhas”. Sua atuação na tentativa de comprar o sofisticado sistema espião israelense Pegasus, acabou gerando insatisfação no Gabinete de Segurança Institucional da Presidênia e a licitação acabou suspensa. Não fosse a vigilância da imprensa, teria ocorrida sem maiores dificuldades.

A Polícia Federal abriu um inquérito para investigar Jair Renan Bolsonaro, filho mais novo do presidente Jair Bolsonaro. O objetivo é averiguar a suposta atuação da empresa dele junto ao governo federal. O principal negócio da empresa é abrir portas para empresários junto aos ministérios do pai, em Brasília. O inquérito foi aberto a pedido do Ministério Público Federal após denúncia de possível tráfico de influência e lavagem de dinheiro feita contra Jair Renan.

O ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, demitido do governo, onde sua presença ficara insuportável, ganhou como prêmio de consolação um cargo de diretor-executivo no Banco Mundial em Washington, onde também não é dos mais queridos.

O ministro do Meio Ambiente Ricardo Sales é investigado pela Polícia Federal pelo seu incrível método de “passar boiada” liberando toneladas de madeiras apreendidas para exportadores estrangeiros, além de facilitar a vida de madeireiros e garimpeiros em terras indígenas.

Defenestrado da Prefeitura do Rio de Janeiro por suposto envolvimento com organização criminosa, o ex-prefeito Marcelo Crivella foi indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para a Embaixada do Brasil na África do Sul. Diante do rebuliço, a nomeação ainda não se efetivou, mas também não foi descartada

O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, também ganhou prêmio de consolação e, principalmente, uma blindagem: foi nomeado como secretário de Estudos Estratégicos da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, dois meses e meio após sua demissão do cargo de ministro da Saúde. Na sequência, Pazuello, que é general da ativa, voltou ao Exército.

Por último e não menos interessante, o irmão da primeira-dama Michelle Bolsonaro, Diego Torres Dourado, deixou o Ministério da Defesa e agora trabalha como assistente parlamentar na Primeira-Secretaria do Senado, hoje comandada pelo senador Irajá (PSD-TO). A contratação foi feita no final de março, e o cargo comissionado tem salário de R$ 13.494,42, segundo o Portal da Transparência da Casa.

Agora, vem a CPI informar que houve uma certa “pressão” para que se agilizasse a compra da vacina Covaxin por um valor bem acima do praticado no mercado, certamente por influência destas gentes de gabinetes oficiais ou paralelos, sabe-se lá com qual intenção. Certamente, não era vacinar com celeridade a população.

Por enquanto, isso é o que se sabe. Muitas apurações estão embaçadas por blindagens, manipulações, falta de transparência e atuação de órgão de controle, trocas de comando na Polícia Federal, Receita Federal e tal. Bom mesmo vai ser quando essa gente sair do poder e tudo puder ser visto com mais clareza. Isso se a “caixa preta” não explodir antes.

Vai vendo.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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