Principais produtos de Minas Gerais buscam novas rotas comerciais, fidelizam mercados e exportações do agronegócio alcançam US$ 12,8 bi, com aumento de 13,5% em relação ao mesmo período do ano passado
(*) Fernando Benedito Jr.
De alguma forma o tarifaço político de Donald Trump parece estar surtindo efeito contrário e colocado abaixo o discurso liberal, conservador e reacionário da extrema direita de que sem o mercado norte-americano o Brasil estaria caminhando a passos largos para a bancarrota e daí para o abismo. Alinhado aos traidores que operam a partir dos EUA, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, foi um dos capachos de Trump a repetir esta cantilena e a pedir que o Brasil se ajoelhasse aos pés do “grande líder” para não morrer à míngua.
Curiosamente, Minas Gerais é um dos estados brasileiros cujo desempenho na balança comercial aumentou depois do tarifaço de 50% sobre vários produtos nacionais, entre eles, o café, carro-chefe das exportações mineiras. O torniquete de Trump parece ter tirado também alguns setores econômicos da “zona de conforto”. E isso foi bom.
O próprio governo de Minas, contrariando os desejos de Romeu Zema, divulgou nesta terça-feira (16/09) – exatos 40 dias após a entrada em vigor das sanções políticas – que as exportações do agronegócio mineiro alcançaram US$ 12,8 bilhões no acumulado de janeiro a agosto deste ano com crescimento de 13,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. Com o resultado recorde para o período, Minas Gerais se mantém como o terceiro maior exportador de produtos agropecuários, respondendo por 12% da receita do agro nacional. O volume embarcado somou 11,6 milhões de toneladas, com redução de 8,7%, na comparação com os meses de janeiro a agosto do ano anterior.
Mais de 590 diferentes produtos agropecuários mineiros foram enviados para 174 países, com destaque para a China (26%), Estados Unidos (11%), Alemanha (8%), Itália e Japão (5%).
Um dos fatores para o desempenho positivo, apontado pela assessora técnica da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa-MG), Manoela Teixeira, foi a conquista de novos mercados ou ampliação da presença em rotas alternativas, como Filipinas, México e Chile, que surgem como destinos estratégicos para proteínas mineiras. Esse movimento reforça a capacidade de adaptação dos exportadores diante de mudanças nas condições de acesso a mercados tradicionais.
Diante do fechamento de uma porta, o agro e outros setores da economia mineira buscaram abrir outras janelas e a expansão, pelo que se vê, não foi somente no volume de vendas, mas com aumento de 13,5% nas receitas. Definitivamente. Não foi um mal negócio para Minas e o Brasil. Já para Trump, a Starbucks e os consumidores norte-americanos, não parece ter sido um negócio da China…
Por falar em China, este é o grande fantasma da siderurgia, um dos mais importantes setores da indústria de Minas Gerais. Nesta área pode ser que tenha havido algum impacto, embora saiba-se que a concorrência chinesa vem sendo uma tortura para o setor de ferro e aço muito mais dolorosa do que o tarifaço. A fatia do mercado norte-americano para o aço também não era isso tudo. Assim, como o agro, redescobrir novas rotas (inclusive, o próprio mercado interno, que não está tão longe) e novas aplicações para os produtos siderúrgicos podem ser caminhos a seguir.
Era aí que Zema podia entrar, ao invés de ficar comendo banana com casca e ridicularizando Minas por onde passa.
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.