(*) Fernando Benedito Jr.
Nada. Esta é a resposta mais direta, embora seja um direito dele ir ou não para a Rússia ou para qualquer outro lugar.
Mas entre outras coisas, vai dar mais um sinal errado ao mundo – assim como faz em relação à democracia, à vacina contra covid-19 e outros temas caros à humanidade – ao se reunir com o czar Vladmir Putin em pleno cerco à Ucrânia. É como se Bolsonaro estivesse dando um aval: “Pode invadir. Vai que é sua Putin!”
Mas o que salta os olhos é a atitude camaleônica do “camarada” Bolsonaro. Até outro dia era aliado incondicional dos EUA de Donald Trump (de quem lambia botas vergonhosamente) e inimigo mortal de chineses e russos. Da China, porque “inventou” o coronavírus e o antídoto com o um chip para dominar o mundo; da Rússia porque é a pátria mãe do comunismo que Lula quer implantar no Brasil para dominar o mundo. Sem Trump para bajular, mudou a peça no tabuleiro de “War” e resolveu se aliar aos russos. O moço é uma sumidade em geopolítica. Já perdeu a América Latina, a América do Norte, quase toda a Ásia e África e com os russos vai tentar conquistar outros territórios. Só que a esta altura, o jogo também já está perdido na Europa.
O czar, tão isolado no mundo quanto o próprio Bolsonaro, obviamente, não vai recusar a visita em momento tão delicado. Toda antipatia é bem vinda. Bolsonaro vai mostrar aos ucranianos com quantos paus se faz uma canoa, como é bom de tiro e entendido das estratégias bélicas. É só um ensaio para as eleições deste ano – e olha que a Rússia é o paraíso dos hackers.
Bolsonaro talvez pense que com o encontro em momento tão delicado o czar vá apoiar seu pleito de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Não vai. E mesmo que o faça, encontrará a oposição do resto do mundo. Voltará da Rússia de mãos abanando porque nem mesmo um acordo comercial de compra de bananas terá. As bananas já tem dono.
Além de gastar dinheiro público numa viagem desnecessária, com uma comitiva que vai fazer turismo em Moscou, passeando pela Praça Vermelha e quem sabe visitando o Mausoléu de Lênin, Bolsonaro só vai conseguir uma coisa: ampliar seu isolamento no mundo.
A menos que, depois de Putin, fora da agenda, resolva dar um pulinho na Ucrânia para uma rápida conversa ao pé do samovar ou cafezinho. Vai saber.
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.