sexta-feira, outubro 4, 2024
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Nossa democracia precisa amadurecer

(*) Walber Gonçalves

Nenhum sistema político será perfeito dentro de uma sociedade em que as pessoas não veem a virtude como algo a ser perseguido, e muito pelo contrário, uma sociedade que acredita que pelo jeitinho em junção com a Lei de Gerson tudo se resolve, não há democracia que resista.

Já vivemos vários sistemas políticos, basta ver a nossa história, tivemos reis e imperadores, portanto, provamos da monarquia, períodos de regências, um curto período do parlamentarismo “disfarçado”, épocas ditatoriais, e as mais diversas faces do presidencialismo. Enfim, já provamos de tudo e até agora nada parece dar certo. Sempre voltamos para o mesmo ponto, para o recomeço da esperança, que insiste em ser um vôo de galinha.

Agora, pelo visto estamos colocando nossa democracia em cheque. Acredito que só há dois caminhos: retroceder ou avançar. O que não dá mais é continuar como está.

Quando digo retroceder, refiro-me a buscar no passado algo que acreditamos que vai resolver o problema. Muitos começam a levantar a bandeira de épocas passadas como se fosse a salvação do momento presente. Tenho minhas dúvidas!

Agora, quando digo avançar, refiro-me a permitir que a nossa democracia deixe de ser uma criança birrenta e amadureça. Não podemos fingir que somos democráticos; não podemos fingir que acreditamos na democracia, temos que ser de fato.

Ser de fato significa respeitar a opinião e escolha do outro, mesmo não concordando com ela; ser de fato significa que seu ponto de vista ou projeto político-partidário pode ser vitorioso ou derrotado, mas, o que há de positivo é que de tempos em tempos ele será colocado em discussão e escolha novamente; ser democrático de fato é aceitar a vitória, bem como a derrota, algo que pelo visto nunca aconteceu no Brasil; ser democrático de fato é governar para todos, na mesma medida que a sociedade ou parte dela, não concordando com o governo (em todos os níveis) que busque por caminhos institucionais a demonstração da sua indignação. Basta de fakenews, de destruição de reputação, de ações politiqueiras mesquinhas e idiotas.

Nossa democracia deveria ganhar outro nome, tipo “grupocracia”, pois aqui só se entende por democracia quando o grupo do qual cada um de nós acredita ser o melhor conquista a vitória, que na prática significa, conquistar o poder. A derrota transforma o jogo democrático em outros codinomes. Assim nossa precária democracia, que vive de xingos, apelidos animalescos, acaba por permitir que se crie cenários de horrores, que se crie “príncipes” bem ao estilo Leviatã, de Thomas Hobbes.

Se tudo na vida passa por estágios e evoluções chegou a hora da nossa dita democracia passar também. Chegou a hora de virar a página, mudar o estágio da nossa percepção de como ser e agir democraticamente, de deixarmos de ser birrentos e acreditar que de todos os sistemas criados até hoje, nenhum ainda supera a democracia. Só não dá para continuar como está: fazer da democracia sinônimo de poder de alguns.

(*) Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.

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