Cultura

Messianismo político

(*) Wanderson Monteiro

Atualmente, dois dos termos religiosos mais conhecidos e propagados são “Messias”, e “Cristo”, compartilhando os dois termos do mesmo significado. O termo “messias” vem do hebraico “mashiah”, e seu equivalente em grego é “christós”, e significam “ungido”. Segundo algumas tradições religiosas, como o judaísmo, o cristianismo, e o islamismo – onde o “messias” islâmico é denominado na tradição xiita como Mahdi -, o messias é o enviado de Deus que vem para livrar o povo da opressão, do mal, e das mazelas do mundo.

Atualmente nos é comum a ideia de um Salvador, um Messias, que livrará o mundo de suas mazelas, trazendo um tempo de justiça e paz, onde todos viveriam em harmonia. Uma compreensão rasa das Escrituras faz com que muitos esperem um salvador terreno, que fará transformações drásticas nos sistemas que regem o mundo, onde serão cumpridas nele todas as profecias relacionadas ao messias, estabelecendo, na Terra, o seu reinado messiânico.

A tradição judaica desde o início espera a chegada de um rei que livraria o povo hebreu das opressões que esse povo sofreu em sua história, um rei que herdaria “o trono de Davi”, iniciando uma era de paz e prosperidade.

Essa esperança de um messias que iniciará um reinado terreno, fez com que Jesus fosse rejeitado como o messias prometido – sendo este reconhecido como o verdadeiro Messias pelos cristãos -, pelo mesmo não se enquadrar na concepção judaica da época sobre como seria o “messias”, já que o mesmo veio pregando a salvação universal, e não somente o livramento de Israel, e dando declarações de que o seu reino “não é deste mundo”, fugindo do arquétipo e do imaginário judaico da época, que era focado exclusivamente em uma libertação nacional do povo judeu que, naquele tempo, sofria sobre a opressão do império romano.

A partir do conceito judaico cristão de “messias”, muitas pessoas têm demonstrado ter esperanças em um “salvador” terreno, que transformará todo o mundo, acabando com todas as mazelas e desigualdades.

Atualmente, mesmo fora do campo religioso, levando para campo político, podemos encontrar pessoas que acreditam que a salvação de todas as mazelas e injustiças da humanidade virá de uma figura específica ou de uma instituição que, normalmente, acham suas representações nos governos estipulados, ou de um único representante desse governo, no caso, o presidente de uma nação. Tal esperança nos governos e sistemas humanos é chamada de messianismo político.

Ao longo dos anos, muitos governantes foram considerados como os “salvadores da pátria”, tomando para si esse arquétipo de messias político, e muitos ainda aparecerão. A cada ano que passa, o conceito de  messianismo político se torna cada vez mais forte e, com a fragilidade das democracias nacionais, muitos já projetam suas esperanças em um líder mundial, que será não o salvador de um país, mas sim, o “salvador” do mundo. E tal anseio por um líder global deveria não nos dar esperanças, mas nos fazer temer suas consequências.

(*) Wanderson R. Monteiro é bacharel em Teologia pelo ICP

São Sebastião do Anta – MG

dudu.slimpac2017@hotmail.com

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