(*) Wanderson R. Monteiro
Acredito que a maioria dos leitores devem ter conhecimento da popular síntese extraída do pensamento de Nicolau Maquiavel, que diz que “os fins justificam os meios”. Tal frase não se encontra na obra do filósofo, mas é uma síntese formulada a partir do pensamento de Maquiavel exposto em seu livro mais conhecido: “O Príncipe”.
O pensamento traz a ideia de que se o “fim” que almejamos é bom, é desejável, não importa quais meios usamos para alcançá-lo, mesmo que utilizemos meios escusos e reprováveis por muitos, pois, segundo a síntese citada, o fim alcançado justificará todas as más ações tomadas, já que foi tudo feito em prol de “um bem maior”.
Ainda hoje, são muitos os que concordam com tal ideia e guiam suas vidas em torno desse princípio, e isso não fica restrito somente a ações isoladas perpetradas no âmbito das relações interpessoais, pois é fácil notar que tal ideia é amplamente utilizada por governos, sendo praticamente a base para todas as suas estratégias, e isso tem um impacto ainda mais catastrófico quando um governo, ou nação, assume para si o papel de mudar a realidade do mundo, utilizando da desculpa de que deseja “melhorar o mundo”.
Nesse afã de criar um mundo melhor, todas as decisões são tomadas visando o resultado final, visando “o bem maior” que suas decisões trarão e, diante desse propósito, “justificam” todo o tipo ações horrendas, como assassinatos, fomes, guerras, e coisas piores…
Dentre todas as nações que buscam criar um “mundo melhor” à sua maneira, a Rússia ganha um grande destaque pela quantidade de vezes em que ela tentou “melhorar” o mundo, sem se importar com as consequências de suas ações.
No século XIX, os intelectuais russos mais ligados à Igreja Ortodoxa Russa, alardeavam (e esperavam) que no século XX a Rússia iria liderar uma grande revolução espiritual que, segundo eles, iria salvar o mundo da corrupção ocidental, corrupção essa que vinha de sua característica católico-protestante-judaico-ateísta. O que realmente aconteceu foi a revolução de 1917 e, com ela, a maior perseguição anticristã de todos os tempos.
A Revolução, por sua vez, prometia um paraíso de paz, liberdade e prosperidade. O resultado dessa empreitada foi a transformação da Rússia, e dos países vizinhos, em grandes matadouros humanos, jamais imaginados. Afinal, todos os meios eram “ilícitos” e “justificados” para alcançar os fins almejados pela Revolução.
Hoje, a aliança Dugin/Putin, juntamente com seu projeto eurasiano, promete, mais uma vez, “salvar a humanidade da corrupção” e da destruição. Mas, olhando seu passado histórico, e seu contexto atual, podemos acreditar que a Rússia será a “salvadora” do mundo? E, o mais importante: quais serão os meios que ela utilizará para alcançar esse fim? Olhando seu passado e suas ambições, uma coisa é certa: coisas boas não vão ser.
(*) Wanderson R. Monteiro é formado em Teologia, coautor de 4 livros,
e vencedor de três prêmios literários.
(dudu.slimpac2017@hotmail.com)
São Sebastião do Anta – MG