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Maioria mineiros, imigrantes ilegais nos EUA são deportados

Três vôos chegaram a Confins no final de semana e desde o início do ano 877 brasileiros detidos na fronteira com o México foram deportados; política migratória dos EUA não muda com o democrata Joe Biden

(DA REDAÇÃO) – A possibilidade de uma vida melhor nos EUA principalmente agora com o dólar valendo mais de cinco vezes o real, o desemprego batendo à porta de milhares de poessoas e o sonho de um futuro se desvanecendo à medida que o tempo passa, leva centenas de brasileiros, grande parte oriunda de Minas Gerais a tentar refazer a vida na América do Norte.

Os vôos com os deportados geralmente chegam no Aeroporto Internacional de Confins, já que a maioria dos imigrantes ilegais são originários de Minas Gerais, muitos do Leste do estado, como Governador Valadares e cidades próximas, mas também de outras regiões, como o Vale do Aço, além de pessoas de outros estados.

Imigrantes ilegais fazendo a travessia do Rio Grande

DEMOCRATAS E REPUBLICANOS

Desde que assumiu o poder em janeiro deste ano, este foi o primeiro movimento de deportação em massa de imigrantes brasileiros após Joe Biden assumir a presidência dos Estados Unidos.

O democrata Joe Biden havia prometido um tratamento diferente aos imigrantes, chegou a suspender por 100 dias as deportações e prometeu tratar de ‘forma digna’ imigrantes ilegais que vivem hoje no país. Ele, no entanto, repete prática bastante usada durante a gestão de seu antecessor, o republicano Donald Trump, conhecido por suas políticas anti-imigração.

Todos viajaram algemados, por determinação do governo americano, a exemplo do que ocorreu em outros voos durante o governo do republicano Donald Trump, que tinha uma postura declaradamente mais hostil em relação aos imigrantes ilegais.

“COIOTES”

Na maioria das vezes, o sonho comprado caro aos “coiotes” que prometem levar os imigrantes em segurança a solo americano, nem sempre se cumpre. Quase sempre a “entrega” termina na fronteira dos EUA com o México e, quase nunca, também acaba da melhor maneira. Na arriscada travessia, muitos imigrantes são enganados pelos “coiotes” que os repassam a atravessadores mexicanos ligados aos cartéis de tráfico de drogas e de humanos que os abandonam à menor aproximação das patrulhas de fronteira norte-americanas, outros morrem na travessia do deserto ou do Rio Grande; são deixados para morrer dentro de conteiners fechados; são caçados por patrulheiros dos EUA ou, na melhor das hipóteses, são capturados, presos e, depois de muito sofrimento em cárceres desumanos e indignos na fronteira com o México, são deportados de volta ao Brasil.

SONHOS DESFEITOS

Quem já fez a rota na tentativa de entrar nos EUA conta que o sofrimento e o medo são grandes. A incerteza ronda todo o trajeto e a loteria para se tornar um imigrante ilegal é tão difícil quanto a do “green card”. Mesmo assim, muitos deportados mantém o sonho de correr o risco novamente e tentar mais uma vez.

Na última semana, centenas de sonhos foram desfeitos em pelo menos três vôos de deportados, que longe de retornar ao Brasil com a vida feita, chegam humilhados, algemados, com a roupa do corpo (as autoridades norte-americanas confiscam toda a bagagem), alguns doentes ou psicológica e moralmente abatidos pelo período no prisão e a destruição brutal da perspectiva de viver o “American way of life”.

Centro de detenção norte-americano na fronteira com o México

VÔOS

No sábado (5), um grupo de 187 brasileiros deportados dos Estados Unidos desembarcou no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins. Na sexta (4), outros dois voos chegaram trazendo 193 brasileiros que estavam ilegais naquele país, totalizando 380. De acordo com a BH Airport – empresa que administra o terminal – o voo fretado chegou às 13h15 vindo de El Paso, Estado do Texas. O primeiro vôo da sexta-feira chegou por volta das 13h. A aeronave vinda dos Estados Unidos aterrissou em Confins com um grupo de 92 deportados. E outro avião pousou às 16h35 com um grupo de 101 brasileiros ilegais.

No dia 26 de janeiro, mais de 200 brasileiros deportados dos Estados Unidos (EUA) desembarcaram em Minas Gerais. Segundo a Polícia Federal (PF), dos 211 deportados, 90 eram menores de idade. No total, somente neste início de ano, 877 brasileiros foram deportados do EUA para o Brasil.

CHEGADA

Os brasileiros que tentaram imigrar ilegalmente estavam presos no Texas. Eles ficaram algemados durante todo o trajeto.

Os imigrantes desembarcaram com a roupa do corpo, todos com camisas de malha pretas e moletons amarelos e cinzas, que receberam do governo norte-americano. Carregavam sacolas plásticas com água e comida que ganharam no aeroporto – antes disso, estavam sem comida –, além de mantas e os documentos.

O restante da bagagem foi confiscado pelo governo norte-americano.

Havia muitas crianças, algumas de colo. Vários pais choraram ao pisar no saguão do aeroporto.

MAUS-TRATOS

E o que eles contam são cenas de um pesadelo, com maus-tratos, falta de banho, comida e, principalmente, falta de assistência às crianças e adolescentes pelos agentes norte-americanos.

“Crianças vomitavam, estavam recebendo só maçã, suco e burritos, que era uma massa que elas passavam mal. Os banheiros tinham um metro de altura, todo mundo usava junto”, conta um homem, de Betim, que pagaria R$ 90 mil para um coiote se conseguisse permanecer nos Estados Unidos.

PERDA DE PESO

Desempregado, um homem de 27 anos, natural de Goiás, fez a travessia ilegal com a mulher, de 25, e o filho, de 2 anos.

Eles ficaram presos no containêr de 100 metros quadrados com 300 pessoas. Ele perdeu 10 quilos no confinamento.

“Ficamos dez dias sem tomar banho e escovar os dentes. Minha mulher só chorava com meu filho de 2 anos”, diz.

DE VALADARES AO ESGOTO

Um homem de 55 anos, de Governador Valadares, acompanhado da esposa e do filho, relata condições precárias durante a prisão.

“A gente que ganha um salário mínimo pra sobreviver vai tentar algo melhor”.

Ele saiu em 14 de janeiro do Brasil. Para atravessar a fronteira entre México e os Estados Unidos, passou num trecho de esgoto.

“O coiote deixou a gente na beira do rio. Quando atravessamos, fomos pegos”, conta.

FROM MINAS

Desde 2019, são mais de 3 mil brasileiros que viviam ilegalmente nos Estados Unidos e que foram trazidos de volta em 54 voos.

A maior parte dos deportados é de mineiros. Em 26 de janeiro, um voo com 211 deportados chegou ao Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, sendo 90 crianças e adolescentes. Os relatos de maus-tratos são os mesmos.

Uma brasileira que estava em voo com 211 deportados dos EUA diz que ela e filha sofreram maus-tratos.

Muitos passageiros disseram que passaram fome e frio no período em que estiveram presos. Até medicamentos foram negados às crianças.

A Polícia Federal investiga se houve violação aos direitos dessas crianças e adolescentes. (Com informações do UOL, EM e G-1).

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