Snowden crê que ataques têm por objetivo “tentar dissuadir os jornalistas mais corajosos de fazerem investigações agressivas”
FRANÇA – O jornal francês Le Monde que chegou às bancas na tarde desta sexta-feira (31) traz um artigo de meia página assinado por Edward Snowden. O ex-analista da NSA diz que a liberdade de imprensa está em risco no Brasil e defende o jornalista Glenn Greenwald, acusado de auxiliar e orientar hackers a invadir telefones de autoridades brasileiras.
Snowden começa o artigo afirmando que as acusações contra fundador do site The Intercept Brasil são “absurdas”. Ele tece elogios ao jornalista, lembrando Greenwald foi recompensado com um Pulitzer, o equivalente ao prêmio Nobel de jornalismo, e que algumas de suas revelações respingaram em personalidades de peso da política e da justiça brasileira, como o juiz Sergio Moro.
Para Snowden, a alegação usada pela justiça brasileira, que usa o termo “conspiração” para descrever os jornalistas que fornecem e publicam os documentos vazados, “é o mesmo argumento usado pela administração de Donald Trump nos Estados Unidos para acusar o fundador do WikiLeaks, Julian Assange”.
O ex-analista da Agência de Segurança Nacional americana (NSA, na sigla em inglês), que está refugiado na Rússia após ter vazado informações sobre o programa de vigilância em massa do governo dos Estados Unidos, alerta para o impacto global do caso Greenwald. Segundo ele, as acusações visando o jornalista “ameaçam a liberdade de imprensa no mundo inteiro”.
Tanto Greenwald quanto Assange irritaram muita gente, relata Snowden. Principalmente por terem publicado informações que “grandes grupos tinham dissimulado por razões políticas”. “É provável que as autoridades desses dois países [Estados Unidos e Brasil] tenham imaginado que as divergências na opinião pública desviariam a atenção da população para o perigo maior que esses processos representam para a liberdade de imprensa”, martela nas páginas do Le Monde.
Para Snowden, ambos os processos têm como objetivo “tentar dissuadir os jornalistas mais corajosos de fazerem investigações agressivas”. Por essa razão, insiste o ex-analista da NSA, logo após o anúncio das acusações contra Greenwald e Assange, dezenas de associações de defesa das liberdades civis e dos jornalistas se manifestaram”.
“Em todas as épocas, o jornalismo mais essencial é justamente o que os governos tentam silenciar. As acusações atuais mostram que, se tiverem a possibilidade, os governos brasileiro e americano estão prontos para amordaçar a imprensa”.