Opinião

Generais não tem autoridade para falar sobre eleições

(*) Fernando Benedito Jr.

Durante os mais de vinte anos em que estiveram no poder, que tomaram pela via das armas, no golpe que implantou um regime totalitário e acabou com as eleições, baniu, torturou e matou opositores, fechou o Congresso e destituiu o Judiciário, os militares do Brasil nunca se importaram com eleições e menos ainda se eram fraudadas ou não. Inclusive, se houvesse eleição fraudada ninguém saberia ou porque a censura impediria sua divulgação ou porque o mensageiro seria morto.

Agora estão aí, batendo diariamente às portas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), quase querendo arrombá-la, a mando de um capitão inferior em patente e tudo o mais, para questionar um dos mais modernos e eficientes sistemas eleitorais do mundo, cuja implantação teve exatamente o efeito de eliminar fraudes eleitorais, um tema que desapareceu por completo nos pleitos que se seguiram desde então.

No período que se prolongou na interminável noite de medo e terror que começou em 1964 e, efetivamente, só terminou com a promulgação da Constituição de 1988, votava-se em prefeito e vereador. Mas só os do interior, das pequenas e médias cidades, e aliados dos militares, mesmo assim se o regime julgasse que o município não representasse área de segurança nacional. Ipatinga, por exemplo, onde existia uma siderúrgica era considerada área de segurança nacional. Havia eleição, mas também havia uma intrincada rede de espiões do Serviço Nacional de Informações (SNI) que vasculhava a vida privada de cada indivíduo.

As eleições nas capitais e no Disrtrito Federal foram abolidas. Não havia eleições presidenciais. Votava-se apenas nos prefeitos e vereadores de cidades menores, ainda assim sob o controle total dos militares. Embora só houvem dois partidos, Arena e MDB, se fosse eleito por um destes partidos um candidato mais destoante, crítico e, principalmente, de oposição ao regime, ele era deposto e substituído por um Intendente, conforme a vontade dos generais. O voto popular era solenemente ignorado pela gente da caserna e da caverna.

A trágica experiência dos generais no poder, que se repete agora com o mandato do capitão, foi isso. E têm a petulância de exigirem informações sobre o processo eleitoral. Não, definitivamente, não tem este direito e o TSE já deveria ter dado um fim nessas intromissões descabidas e colocado estes senhores em seus devidos lugares. Pelo bem da democracia, que eles tanto detestam.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.

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