(*) Fernando Benedito Jr.
A Unidade Básica de Saúde certamente é um dos primeiros lugares públicos que o cidadão ainda pequeno frequenta na vida depois da maternidade. É aí onde vai quando tem que tomar a primeira vacina, quando esfola o joelho nas brincadeiras de rua, quando precisa de um atendimento ambulatorial. É um dos poucos lugares públicos onde pode recorrer quando sente algum mal-estar ou cai doente de uma hora para outra. Em muitas destas unidades o cidadão também recebe atendimento odontológico quando é acometido pela insuportável dor de dente, para tratar uma cárie e em alguns casos, como já houve em Ipatinga, tinha-se até a Clínica do Bebê, cujos trabalhos resultaram num dos menores índices de cárie infantil do Brasil, tornando-se uma orgulhosa referência no País e no mundo.
Quando se tem algum problema mais sério e é necessário uma consulta médica, um pedido de exame, é às Unidades Básicas de Saúde que se recorre. Em algumas o atendimento é precário, as paredes mofadas, a fiação saindo das paredes, mas o atendente está lá; o médico demora, mas vem; um diagnóstico e uma receita são possíveis. Noutros, a situação é melhor, o atendimento é de excelência, não falta vacina, não falta instrumental, não faltam enfermeiras. Seja como for, precário ou excelente, as Unidades de Saúde são o lugar onde o cidadão pode recorrer para o atendimento gratuito de saúde. Quem pode e tem plano de saúde a R$ 800,00/mês (um dos mais em conta) vai para o hospital particular; outros, mais abastados, vão para o Albert Einstein, Sírio Libanês, para a Rede Dor… Quem não tem e não pode pagar encontra nas UBSs, no SAMU, nas UPAs a porta de entrada para o Sistema Único de Saúde (SUS), que mantém um processo de regulação de leitos de UTI e enfermarias em alguns dos melhores hospitais do País.
É esta porta de entrada que o governo Bolsonaro quer fechar. Fecha para o povo e abre para as grandes corporações médico-hospitalares, vendendo estes ativos para a Qualicorp, Unimed, Usisaúde, por exemplo.
Da maneira como está, com o SUS universalizado e gratuito, qualquer pesquisa de opinião aponta a saúde como um dos principais problemas do povo brasileiro. Uma vez privatizado, o problema se multiplicará, ou deixará de existir, porque a maioria da população sequer terá acesso ao sistema precário que existe hoje – portanto, nem mesmo terá do que e com quem reclamar. Um Sistema que, com toda a precariedade, evitou que o número de mortos nesta pandemia tivesse chegado a 1 milhão.
Por isso, e por muito mais, é preciso lutar pelo SUS como se estivesse lutando pela própria vida, porque é disso mesmo que se trata. E é isso que Bolsonaro quer tirar, a vida.
(*) Fernando Benedito Jr.é editor do Diário Popular