(*) Fernando Benedito Jr.
O ambiente político em Ipatinga nos últimos dias, conforme o que se viu pelas redes sociais ganhou ares de um provincianismo desmedido. Tipo aquelas fofocas de quermesse quando na saída da igreja as beatas sem mais o que fazer se reuniam para falar da vida alheia, futricar sobre os pecados alheios, sem se dar conta de que, na futrica, estavam pecando. Do altar dos hipócritas, procuram por genis que devem ser apedrejadas, como se nunca tivessem pecado, o que nem é o caso. É no que dá ficarem ouvindo e levando a sério o que diz a doida da Damares, que na sua abstinência forçada, quer obrigar todo mundo a seguir o rito purificador da castidade. Loucura. Uma doideira que ganha dimensões inconcebíveis nas redes sociais.
Antes de mais nada, é preciso saber diferenciar o público e o privado. O fato de uma pessoa estar na vida pública, seja como político, artista, celebridade, youtuber, seja lá o que for, não significa que todos os seus atos tenham repercussão na vida dos cidadãos. No mínimo, podem despertar alguma curiosidade, mas não devem passar deste limite. As questões de foro íntimo, muito menos tem a ver com as dimensões escandalosas que se quer dar a um relacionamento íntimo, a uma atitude pessoal. O que interessa ao cidadão comum, aos reles mortal, se Lula toma uma cachacinha, se fulano tem uma namorada, se beltrano deu uma escapadela… Cada um faz de sua vida o que bem entender, ainda que seja uma figura pública. Se a cachacinha não foi comprada com dinheiro público e o porre não influenciar em decisões governamentais, problema figadal de quem bebe.
No caso específico de Ipatinga, uma cidade que não tem nada de provinciana, muito ao contrário, tem traços cosmopolitas muito bem definidos, o tipo de discussão que se estabeleceu nas redes sociais é profundamente hipócrita e estranha. Pouco interessa se o prefeito da cidade embarca num avião em companhia de quem quer que seja para fazer o que bem desejar – e tomara que o desejo seja mesmo o motor deste avião, para felicidade de todos. E que sirva de exemplo.
De tudo, ficou um saldo positivo dos melhores – a tentativa do desgaste a partir de um episódio personalíssimo e privado não colou e a hipocrisia foi amplamente rechaçada, deixando claro que este tipo de expediente pode ter funcionado no passado, contra outras pessoas, mas ainda tem gente que pensa criticamente e sabe diferenciar os interesses políticos em jogo. Oxalá este tipo de compreensão se aprofunde em nível nacional.
Para finalizar, Tolstoi em carta a um amigo disse que de todas as ciências que o homem pode e deve saber, a principal é a ciência de viver fazendo o mínimo possível de mal e o máximo possível de bem.
Portanto, abaixo a hipocrisia. E avante!
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.