Vilma Lígia Pereira
O trecho acima é de uma música, se não me engano, do Fernando Mendes que na década de 1970 fez muito sucesso. Naquela época a Loteria Esportiva era a mais conhecida e, talvez, a única, o jogo mais cobiçado. Fazer 13 pontos era o sonho e a dupla Vinícius e Toquinho até incluiu em outra música o hábito de muitos:
“Depois faço a loteca com a patroa/Quem sabe nosso dia vai chegar/E rio porque rico ri à toa/Também não custa nada imaginar”. (Cotidiano 2).
O tempo passou e ainda hoje, brasileiras e brasileiros continuam apostando na sorte porque acreditam nela. Ah, mas tem gente que não está muito disposta a fazer esse sonho virar realidade.
Hoje o tempo tava bom, ensolarado, céu azul. Aquele dia que a gente olha e diz: Vou à lotérica! E a Mega tá acumulada, quem sabe…? Com muito bom humor a gente vai disposta ou disposto a fazer uma “fezinha” e escolhe aquela casa de jogos que mais lhe apetece – ainda mais quando já se acertou um prêmio, por pequeno que seja e é aí que se quer tentar novamente embora tenha outras opções. Mas a gente se engana, não é? Se o seu dia tá bom pra viver, o de outras pessoas tá de matar. Voltei para casa sem saber ou entender o que cargas d’água teria ocorrido numa certa lotérica da Av. Selim de Salles de pomposo nome SALES LOTERIA. Estava vazia às 17h10 e achei ótimo, pois da última vez em que lá estive, sábado último, enfrentei uma baita fila mesmo chegando antes da abertura. Vi as funcionárias chegando e tive paciência mesmo depois das 8h30 que a porta ainda estava fechada. Todos já estavam reclamando e alguns minutos depois, eis que a porta se abriu. Fiz os jogos como de costume embora a outra, a MUZZI, na mesma avenida, alguns metros a frente, seja bem mais agradável, e suas funcionárias muito gentis. As da rua Síquem também são muito profissionais. Moro perto de todas, mas devido ao tempo e ao sol escaldante preferi essa a que me referi acima.
Não precisei ficar muito tempo na fila, pois logo já fui atendida. A partir daí é que acontece algo inédito
A moça atendente contou os jogos e já foi me pedindo que pagasse por eles antes do registro. Falei: uai, agora tem que pagar antes? Pode registrar que eu pago em seguida. E ela: Não, pode me pagar já. Isso, depois de cinco minutos que eu fiquei assentindo com a cabeça e apontando com os dedos que eram só aqueles, pois eu tinha alguns volantes na mão que não ia jogar no momento. Achei que ela estivesse esperando que eu os entregasse a ela. Ela se recusou a registrar os que já estavam com ela por causa da minha negativa em entregar o dinheiro antecipado como nunca fizera antes em tantos anos que jogo.
Fiquei achando estranho e peguei os jogos de volta e entreguei à colega dela que estava disponível. Pois a colega usou o mesmo estratagema pedindo-me que pagasse antes. E eu ainda calma falei que ela estava duvidando de mim? E pedi pra falar com a gerência no que fui impedida. Nessas horas não aparece ninguém. Liguei 190 mas quem atendeu disse que não era o caso pra fazer registro. Estranhei. Desliguei o telefone e a moça se recusou a registrar os jogos. Eu já fui ficando nervosa porque não tinha justificativa tudo aquilo. Eram apenas 18,00 reais, mas se fossem 40, 50, 100,00 ela contaria um por um e me pediria o pagamento antecipado? Não entendi e só pude entender pela ótica do racismo. Com muito custo – e pela hora já não dava para me deslocar para outra lotérica – uma lá acabou registrando os jogos e de forma desrespeitosa e ríspida falou o total. Aí fiquei brava e mandei ela tomar naquele lugar, coisa que jamais falo pra quem quer que seja. Ao que ela disse que eu era muito desrespeitosa pela minha idade. Ah! Senti vontade e falei muito para ela. Além de tudo ainda fiquei sendo a velha mal-educada. Olha só: preconceito por idade!
Estou acostumada a tratar a todas e todos como muita educação até quando não merecem, mas penso que determinadas pessoas não têm perfil para o serviço de atendimento ao público ou desconhecem a composição étnica e etária da população de Ipatinga e, especificamente, do Canaã.
E eu nem falei que naquela função dela, eu já trabalhei nos anos 1980, meu primeiro emprego, quando as máquinas eram pesadas e os cartões tinham que ser perfurados. Êta tempo! As moçoilas de hoje se estressam com pouco, não conhecem a vida e muito menos a história. “Donas do pedaço” sentem que podem humilhar quem elas quiserem. “Forever Young, Forever”.
Ipatinga com seu comércio está se tornando uma Oropa esperando aqueles clientes sui generis, típicos daquele Continente. Passam o dia contando milhões do patrão, mas dormem contando as moedas para pagar as prestações dos cartões de crédito. Tenho pena desse tipo. Elas se esquecem que são clientes como eu e como outras e outros tantos que elas “desatendem” destratando que pagam seus míseros salários.
Voltei para casa humilhada e pensando que alguma coisa deveria ser feita para que pessoas como estas moças do mau-atendimento da lotérica Sales conheçam mais sobre como atender bem e ajudem a modificar o perfil brasileiro que desde 2018 passou a se configurar nos sujeitos “broncos”, sem percepção e sem solidariedade, estúpidos, rudes, grosseiros, mal-humoradas e mal-humorados que parecem saídos de uma cova fria e mal iluminada. Eu, por outro lado, vou continuar apostando, pois conforme o Fernando, sorte tem quem acredita nela.
Espero, depois de tudo, ganhar alguma das acumuladas pra valer meu dia que tava bom demais até aquele momento de entrar na dita lotérica SALES.
E, pensando bem, volto lá mais não. Pessoal das outras duas são mais gente que essas aí.
Li Pereira