(DA REDAÇÃO) – O irmão do ex-vereador de Ipatinga, Deusemim Januário Gonçalves – assassinado numa emboscada em 16 de junho de 2002, ao sair de casa no bairro Cidade Nobre –, é o cônsul honorário de Moçambique em Belo Horizonte, Deusdete Januário Gonçalves, que teria vendido imunidade diplomática para vários chefões do Primeiro Comando da Capital (PCC), entre eles Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, que cumpre prisão no Brasil após ser detido em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia.
Além de Tuta, obtiveram imunidade e estavam no quadro de funcionários do Consulado de Moçambique em Belo Horizonte, segundo a Polícia Federal, o “concierge’ do PCC, Willian Barile Agati, também conhecido como Senna; seu primo Régis Agati Carneiro; e Marinel Bozhanaj, criminoso de origem albanesa e um dos principais líderes do PCC.
O caso ganhou repercussão após a prisão de Tuta na Bolívia. Segundo o “Fantástico”, ele usou a liberdade para crescer na facção. Em 2018, foi contratado como adido comercial do consulado de Moçambique em Belo Horizonte. O salário era de R$ 10 mil, e ele ganhou crachá e até cartão de visita. Imagens mostram jantares de negócios, e revelam a proximidade entre o traficante e o então cônsul Deusdete Januário Gonçalves.
Em depoimento à justiça, o ex-cônsul declarou que Tuta preenchia todos os requisitos necessários para o cargo, e que a missão dele era apresentar ao consulado empresas dispostas a investir em Moçambique. Para o Ministério Público, o interesse do traficante era outro.

ROTA DE TRÁFICO INTERNACIONAL
“Na verdade, o que o Tuta queria era estabelecer uma rota de tráfico internacional de cocaína para a Europa, do PCC, a partir do continente africano. E, para isso, eles usaram o Moçambique”, afirma o promotor Lincoln Gakyia.
Segundo os investigadores, Tuta teria fechado acordo com integrantes de uma máfia italiana.
“A defesa do ex-cônsul Deusdete Gonçalves afirma que ele é investigado em procedimento que tramita sob segredo de Justiça, mas que jamais integrou qualquer prática ilícita ou organização criminosa”, informou o Fantástico.

IMPEDIMENTO
Segundo o site “Carta de Moçambique”, depois da revelação, pela imprensa brasileira, de que Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, parceiro do traficante Fuminho, é adido de Moçambique no consulado do Belo Horizonte, apurou-se que o respectivo Cônsul de Moçambique foi impedido de exercer funções. O Itamaraty, como é conhecido o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, recusou a renovação da carteira e passaporte diplomático de Deusdete Januário Gonçalves, um cidadão brasileiro, que ocupava o lugar desde 1999 anos”.
SOB INVESTIGAÇÃO
O site diz ainda que Deusdete está sob investigação. “Ainda não está provado o seu envolvimento directo no tráfico de drogas. ‘Carta’ apurou, no entanto, que Deusdete é um homem cheio de processos judiciais no Belo Horizonte. Segundo uma fonte governamental local, o Governo brasileiro já havia informado Maputo de que algo não andava bem no Consulado de Moçambique no Belo Horizonte”.
FONTE RELEVANTE
“Mas o facto de o traficante Marcos Roberto de Almeida ter o estatuto de “adido” causou um grande alarido – afirma o Carta de Moçambique. Como é que isso foi possível? Deusdete pode ser uma fonte de informação relevante”.
Conforme o site, “por definição, um adido é um agente/funcionário diplomático ou consular que não é de carreira. Tem funções específicas, e se lhes atribui a designação de adidos para poderem gozar dalgumas imunidades. Para se chegar a adido, é preciso uma proposta do Cônsul, explicou uma fonte ligada à diplomacia; ou seja, no caso vertente, foi Deusdete quem propôs que Marcos fosse adido”.