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Candidato da esquerda lidera, mas Bolívia deve ter 2º turno

(DO EL PAÍS) – Uma pesquisa divulgada na quarta-feira na Bolívia, a pouco mais de duas semanas das eleições, desenha como cenário mais provável a realização de um segundo turno entre o candidato que lidera as intenções de voto, Luis Arce, do Movimento ao Socialismo (MAS, partido do ex-presidente Evo Morales), e o ex-presidente Carlos Mesa. O levantamento foi feito após a desistência da presidenta interina do país, Jeanine Áñez, e foi divulgado pelo Unitel, principal canal da TV boliviana.

Arce aparece com 41,2% das intenções de voto, e Mesa com 33,5%. Segundo a lei boliviana, um candidato pode ganhar já no primeiro turno se cumprir duas condições: obter mais de 40% e superar seu competidor mais próximo em pelo menos 10 pontos percentuais. Arce satisfazia ambos os critérios há duas semanas, ou seja, antes que Áñez retirasse sua candidatura. A presidenta interina, que tinha resultados ruins nas pesquisas mais recentes, alegou que sua prioridade deveria ser evitar uma vitória do MAS no primeiro turno. O eleitorado dela acabou se dividindo entre o segundo e o terceiro colocados —Mesa e o ultradireitista Luis Fernando Camacho—, mas o volume herdado pelo ex-presidente pode ser suficiente para que force a um segundo turno contra Arce. Supõe-se que, num segundo turno, teria mais força o candidato que se contraponha ao MAS.

GOLPE

O partido de Morales vem de uma grave crise causada pela derrubada do presidente em novembro passado e encontrou dificuldades para ampliar seu eleitorado, formado sobretudo pelos setores populares. Sua estratégia consiste em procurar uma vitória em primeiro turno, aproveitando-se da divisão das forças políticas que se formaram na oposição aos 14 anos de Governo de Morales.

Camacho tem uma intenção de voto nacional de 17,7% e está claramente na primeira posição em Santa Cruz, a região mais rica e menos indígena do país. Ele disse que não seguirá o exemplo de Áñez e não renunciará em favor de Mesa, porque ele representa “a velha política” e foi “pactista” com Morales. Ao mesmo tempo, considera-se o único capaz de investigar e punir os “crimes” do período anterior. Entretanto, um terço dos eleitores de Camacho poderia migrar para Mesa se ficar clara a possibilidade de uma vitória do MAS no primeiro turno.

FINAL DE ENFARTE

O resultado eleitoral dependerá da imprevisível combinação dos desempenhos de Mesa e Camacho, cada um deles tirando chances do outro, e da capacidade do MAS de otimizar a intenção de voto que já tem. Ainda há um número elevado de indecisos: 21,7%.

Começou-se a falar de “final de enfarte”, o que acarreta sérios riscos para o país, porque apenas 31% da população confia plenamente no Tribunal Eleitoral, apesar de ele ter sido integralmente renovado depois da anulação das eleições presidenciais de 2019, por suposta fraude. Naquele pleito, o objetivo dos dois lados da oposição ao Governo Morales era o mesmo: frustrar a vitória do MAS e possibilitar um segundo turno eleitoral. Ao final, o resultado oficial o descartou por uma margem tão estreita que estimulou as acusações de fraude contra Morales, que tentava ser reeleito pela terceira vez.

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