terça-feira, novembro 26, 2024
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Antes do fim do mundo

(*) Fernando Benedito Jr.

Diversas áreas ao redor do mundo experimentam mudanças climáticas e seus efeitos como nunca viveram antes ou em intensidades que contrariam tudo que já aconteceu por ali em outros tempos. Por exemplo, esta Onda Frio que os meteorologistas nos prometem para esta semana só correu em 1958.

A Califórnia se incendeia, assim como Portugal, Espanha e o fogo volta a lamber Roma e ameaçar à Grécia. Depois de apagado, nos esquecemos e continuamos a poluir. Na Alemanha e na Bélgica, a força das águas arrasta o que está à sua frente, invade, ruas e casas, como se fosse uma área ribeirinha da Amazônia. Passada a tempestade, voltamos a entupir os bueiros com os plásticos tóxicos do dia-a-dia. O Pantanal arde em chamas e calcina a fauna e a flora. Dias depois, estamos tacando fogo no canavial e nas estátuas. Enchente das mesmas proporções europeias inunda a China e devasta metrópoles nunca antes atingidas pela força descomunal da água descontrolada. Com pouco, estamos lá represando os rios enormes e apertando suas gargantas. As geleiras derretem, os oceanos sobem e inundam cidades, desaparecem ilhas. E estamos lá, destruindo a camada de ozônio.

Estação Antártica Comandante Ferraz é uma base antártica pertencente ao Brasil localizada na ilha do Rei George, a 130 quilômetros da Península Antártica, na baía do Almirantado, na Antártida. Na foto, Pinguins.

Enquanto isso, Greta grita sozinha. Os homens seguem sua sina com as motosserras ligadas, as queimadas seguem seu curso inexorável, as madeireiras se acham imprescindíveis no mundo de concreto. As chaminés fumegam apagando as estrelas das mesmas metrópoles atingidas ora pelo fogo, ora pela água, ora por vírus que devastam os homens. A humanidade segue seu curso rumo à auto-destruição, pouca interessada, e nada preocupada com o que virá depois. Só que não haverá depois, porque o depois já é o agora, está acontecendo.

São ondas de frio, ondas de calor, maremotos, tsunamis, meteoros, cataclismas de toda ordem ou de todo o caos, sem que o cidadão se dê conta. Nem ele, nem o vizinho, nem a rua, nem o bairro, nem a cidade, se dão conta de que é preciso reciclar o lixo, para citar outro exemplo banal. Consumir menos energia, agrotóxico, desligar o celular e ler um livro. Ouvir Greta, ouvir Ailton Krenak e tentar adiar o fim do mundo.

Tem uns bacanas aí que já estão resolvendo seu problema. Todo dia fazem um passeio pelo espaço sideral. Pegam suas astronaves, juntam alguns amigos e passageiros bilionários e decolam rumo à gravidade zero. Depois que destruírem tudo aqui na Terra, colonizam outro planeta aí e foda-se quem ficar. Acho que o lance é mais ou menos esse.

Por isso, quem puder, deveria tentar adiar um pouco o fim do mundo, porque ao fim e ao cabo, não sobrará nada, nem ninguém.

Isso, sendo otimista.

Ah, e é melhor não esperar por governos.

(*) Fernando Benedito Jr. é jornalista e editor do Diário Popular.

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