Ministro aposentado do STF rechaça críticas à urna eletrônica e diz que voto impresso “prepara espírito da coletividade para uma eventual perda do mandato pela voz da urna”
BRASÍLIA – “A democracia só é radical numa coisa: não admite alternativa, porque a alternativa para a democracia é a ditadura. A ditadura não é uma alternativa civilizatória, é barbárie. A democracia tem que ser forte o suficiente para não sucumbir a golpes e atentados. A democracia tem que ser vigilante o tempo todo. A cidadania tem que ser vigilante o tempo todo para sair em defesa da democracia”, disse o ministro na edição do podcast “Supremo da Semana”, que foi ao ar neste sábado (31).
ANTÍDOTOS
Ayres Britto falou ainda que “toda democracia, em qualquer lugar do mundo, corre perigo, experimenta riscos o tempo todo”. Mas completou que há “antídotos”, como o Judiciário, a imprensa, o Ministério Público e os partidos políticos.
“A democracia precisa dos antídotos. Esses antídotos começam todos pelas instituições. Há instituições que exercem o poder, como o Legislativo e o Executivo, o poder político propriamente dito. (…) Mas há instituições que não são democráticas pela eleição popular, porém democráticas pelo controle que exercem sobre o poder político e pelo serviço que prestam à democracia, de garantidores dela. Por exemplo, o Judiciário, a imprensa, o Ministério Público, os partidos políticos. Essas instituições não governam, mas impedem o desgoverno.”
VOTO IMPRESSO
Para o ministro aposentado, a crítica “bem-intencionada” ao processo eleitoral é bem recebida, mas ele rechaçou que se possa atuar “sorrateiramente, maliciosamente e antidemocraticamente para derrubar um instituto jurídico ou desprestigiar uma instituição”.
Britto se disse contrário ao voto impresso porque, para ele, isso aumenta as possibilidades “de tumultuar, de conturbar, de retardar o processo eleitoral”, além de quebrar o sigilo do voto. “Fica fácil o perdedor alegar que perdeu por fraude, já preparando o espírito da coletividade para uma eventual perda do mandato pela voz da urna.”
MOROSIDADE DA UNIÃO
O ministro Ayres Britto comentou ainda críticas ao Supremo Tribunal Federal por conta da decisão que estabeleceu que União, estados e municípios têm competência concorrente para tomar medidas de combate ao coronavírus. Para ele, o Supremo agiu corretamente e à luz da Constituição porque a União foi “muito morosa” e os outros entes não poderiam ser “contaminados” por isso.
“Essa paralisia da União, paralisia, mais que morosidade, não poderia contaminar as outras unidades federadas. As outras unidades federadas que tratassem de fazer a função delas, foi o que o Supremo disse. A ideia é que a União coordene tudo, porque é a pessoa federada central, mas se a União não ocupa seu espaço, as outras unidades federadas não se contaminam com essa disfunção, essa disfuncionalidade federal, elas atuam por conta própria. Foi o que disse o Supremo Tribunal Federal. Portanto as fake news aí são a expressão de uma aleivosia (deslealdade) à própria dignidade do Supremo, ao próprio Supremo Tribunal Federal.”