(*) Thales Aguiar
Caros leitores, esse é um dos debates no palco das nossas discussões, a vida se desdobra em várias formas, e o perigo reside em transformá-las em meras bandeiras políticas ou religiosas. Em um mundo onde cada vida é uma sinfonia única e importante, é fundamental lembrarmos que a luta por ela vai além de qualquer rótulo ideológico. Precisamos desvendar os múltiplos capítulos de uma narrativa que nos convida a refletir, agir e cuidar. Fazendo uma retrospectiva, sabemos que a atual legislação brasileira, estabelecida em 2012 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), ainda permite o aborto em casos específicos. No entanto, ativistas e defensores dos direitos das mulheres têm pressionado a temática ampliar esses casos, argumentam que a legislação atual é restritiva e não abrange todas as situações em que uma mulher pode enfrentar uma gravidez indesejada. O tema de fato é uma questão de saúde pública e preservação da saúde da mulher. Sabemos bem que o aborto clandestino acontece na maior naturalidade entre as famílias brasileiras. Todos nós de alguma forma já ficamos sabendo de algum caso de aborto seja entre seus familiares ou vizinhanças. No Brasil, cerca de 800 mil mulheres praticam abortos todos os anos. Dessas, 200 mil recorrem ao SUS para tratar as sequelas de procedimentos malfeitos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a situação pode ser ainda mais alarmante: o número de abortos pode ultrapassar um milhão de mulheres.
O aborto é o quinto maior causador de mortes maternas no Brasil. De acordo com um estudo publicado em 2013, uma a cada cinco mulheres com mais de 40 anos já fizeram, pelo menos, um aborto na vida. Precisamos discutir de forma responsável, tirando aspectos religiosos que não tem nada a contribuir para uma resposta mais concreta a garantir uma saúde plena da mulher. Cristãs de todas as religiões fazem aborto… Quem pode paga, quem não pode passa aperto e às vezes morre nas complicações. Todos somos a favor da vida, incluindo das mulheres que morrem por não terem acesso a saúde e nem a educação para discernimento.
As mulheres precisam ser protagonistas nas conversas e decisões sobre o aborto. Consequentemente o machismo estrutural tem impedido sua inclusão, enquanto hipocritamente tenta influenciar decisões que só as mulheres podem tomar com base em suas experiências pessoais. Neste momento, a questão não é apenas a defesa da vida, mas também a promoção da saúde e a garantia dos direitos de todas as mulheres, independentemente de sua origem, fé ou condição financeira. O momento é de abrir espaço para as vozes das mulheres e tomar medidas para proteger suas vidas e bem-estar. Dos 100 nascidos vivos, 30 enfrentam o dilema da existência nos confins da clandestinidade, onde a segurança é uma miragem. Nas Conferências Nacionais de Políticas para as Mulheres, elas, as próprias protagonistas, debatem temas delicados como esse, reivindicando voz e espaço para suas perspectivas. Ainda assombram as mulheres, os feminicídios, uma cruel face da violência doméstica, clamam por justiça e medidas urgentes. O assédio e o estupro, roubando dignidade e liberdade, representam a violação mais cruel dos direitos e da vida feminina. Enquanto isso, a carência de condições sociais, assistência à saúde e oportunidades de emprego são armas que atingem mulheres e crianças de maneira silenciosa, mas letal. Essa são uma das consequências de um debate mal estabelecido na politica brasileira, sem contar os mais atingidos que são as crianças, as mais desprotegidas, que deveriam ser nossos tesouros mais preciosos, e acabam enfrentando tormentas cruéis como a negligência e o abandono, sombras que obscurecem um futuro promissor. A pornografia infantil, um abismo de perversidade que exige combate constante. A tortura que é um pesadelo que jamais deveria tocar os corações inocentes. O trabalho infantil, que rouba a infância e sonhos de um futuro melhor. O tráfico de crianças e adolescentes, um abuso inimaginável que desafia a humanidade. A violência física, uma cicatriz que marca vidas em tenra idade. A vivência psicológica, uma prisão invisível que assombra almas dos jovens. O aliciamento sexual de menores, um crime hediondo que demanda nossa vigilância. O Bullying e cyberbullying, sombras que perseguem as vítimas mesmo nos refúgios virtuais e o infanticídio, o sombrio capítulo de um pesadelo que precisa ser enfrentado e superado. Nossas vozes e ações não deveriam ser limitadas por ideologias estreitas, mas amplificadas pelo compromisso com a vida em todas as suas formas. Que esta reflexão nos inspire a agir em prol de um mundo onde cada vida seja uma história de esperança, amor e oportunidades.
(*) Thales Aguiar é jornalista e escritor.