(*) Thales Aguiar
Caros leitores, vivemos tempos sombrios onde a mediocridade não apenas sobrevive, mas prospera. O significado da palavra “medíocre” vem do termo “mediano”. Em pleno século XXI marcado por avanços tecnológicos e inovações sem precedentes, deveríamos ser a era do conhecimento, da criatividade e do progresso humano. No entanto, ironicamente, estamos cada vez mais imersos em uma cultura que premia a mediocridade e marginaliza a excelência. O debate crítico sobre esse fenômeno é mais necessário do que nunca, pois a sociedade parece estar mais conformada com a superficialidade em vez de buscar a profundidade. A mediocridade é em sua essência a aceitação do “bom o suficiente”. Vivemos isso atualmente em todas as esferas de nossa vida, da política ao entretenimento, da educação ao mercado de trabalho. A maioria das pessoas sempre está satisfeita com aquilo que é medíocre – desde que seja amplamente aceito e legitimado pelas massas. Um exemplo claro é o cenário político. Em muitos países, figuras incompetentes e desprovidas de qualquer preparação ocupam cargos de poder, eleitas não por mérito, mas pelo apelo populista. Isso demonstra que o eleitorado em grande parte, prefere a retórica fácil e a promessa vazia em vez de ideias substanciais e complexas.
Da mesma forma, o modelo educacional, que muitas vezes está mais preocupado em atender metas numéricas e burocráticas do que em realmente formar cidadãos críticos e conscientes. A cultura do diploma – o fetiche do certificado – substituiu a verdadeira aprendizagem. Não se trata mais de desenvolver habilidades e conhecimentos profundos, mas de colecionar títulos e carimbos que no final das contas, pouco dizem sobre a capacidade real de pensar, inovar e contribuir para a sociedade. A superficialidade do ensino reflete uma sociedade que se contenta com a aparência do saber sem questionar a real profundidade do conhecimento transmitido. No ambiente corporativo, o culto à mediocridade se manifesta na falta de incentivo à inovação e à ousadia. Quantas vezes vemos líderes medíocres sendo promovidos por sua capacidade de seguir normas e evitar riscos, enquanto os verdadeiros visionários, aqueles que desafiam o status quo, são marginalizados ou até penalizados? Essa mentalidade corporativa de aversão ao risco perpetua um ciclo de estagnação. A mediocridade se tornou confortável, previsível, e, por isso, aceita como norma.
Evidentemente que a sociedade da mediocridade é o consumo desenfreado de conteúdos fúteis e de baixa qualidade, especialmente nas redes sociais. Enquanto temos à disposição uma vasta quantidade de informações e oportunidades para o aprendizado e o crescimento intelectual, a maioria das pessoas preferem se afundar em conteúdos rasos em um eterno ciclo de distração. Estamos rodeados por influencers sem conteúdo, celebridades instantâneas que surgem do nada e desaparecem com a mesma rapidez sem deixar qualquer contribuição significativa para o mundo. As plataformas digitais, em vez de servirem como uma ferramenta de democratização do conhecimento muitas vezes servem apenas para amplificar o vazio e a irrelevância. Essa conformidade com a mediocridade é também uma expressão de uma sociedade que se rende à pressão do conformismo. Aqueles que ousam ser diferentes, que desafiam a norma e buscam a excelência, muitas vezes são tratados como excêntricos, radicais ou até ameaças. A pressão para se encaixar, para não questionar, para não destoar é imensa. Afinal, na mediocridade, todos se sentem seguros e ninguém precisa sair de sua zona de conforto, ninguém precisa se esforçar além do necessário.
Mas o que está em jogo aqui é muito mais do que uma simples acomodação. A mediocridade, ao se tornar o padrão, suprime o potencial humano. Ela impede a inovação, bloqueia o pensamento crítico e sufoca a verdadeira criatividade. Uma sociedade que valoriza o “suficiente” em vez do “excepcional” está condenada a repetir erros e a permanecer na mediocridade, incapaz de avançar em direção a algo maior. Portanto, é urgente que retomemos a busca pela excelência, pelo questionamento, pela profundidade. Precisamos desafiar essa cultura que celebra o medíocre e marginaliza o extraordinário. A mediocridade pode ser confortável, mas nunca será satisfatória. O futuro exige mais de nós e não podemos nos dar ao luxo de nos contentarmos com menos. Será que temos um jeito de desnormalizar a mediocridade?
(*) Thales Aguiar é jornalista e escritor.