Fernando Benedito Jr.
A invasão da Ucrânia pelas tropas russas causou um certo alvoroço no salão de beleza, onde senhoras letradas e outras nem tanto, mas já versadas em assuntos de estratégia militar, geopolítica, economia mundial, etc, discutiam as consequências do conflito em terras brasileiras.
– E se essa guerra chegar aqui? – quis saber uma senhora que fazia as unhas.
– O Brasil vai lutar ao lado dos Estados Unidos, afinal, o Brasil sempre foi aliado da América do Norte em todas as guerras. – asseverou outra senhora, citando o exemplo dos pracinhas da FEB na segunda Guerra Mundial.
A conversa prosseguia nesse tom de perguntas e respostas, defesas do pacificismo, críticas ao ataque covarde de Putin, ao papel secundário de Biden, até que uma ouvinte mais atenta resolveu intervir:
– Mas o presidente Bolsonaro acabou de vir da Rússia, então ele está apoiando os russos contra a Ucrânia. Isso quer dizer que o governo brasileiro não é mais aliado dos Estados Unidos.
A intervenção causou um silêncio estranho, como se o “fato novo” tivesse mudado totalmente o curso da guerra e a invasão do Brasil também fosse iminente, embora não se soubesse exatamente por qual nação, se amiga ou inimiga, tampouco, quem era o amigo ou inimigo nesta altura dos acontecimentos.
Criou-se um ímpasse tão crítico quanto aquele que deu início ao conflito entre Rússia e Ucrânia, até que a dona do salão, conciliadora, encontrou a saída:
– Olha, se tudo correr direitinho, como as coisas só chegam aqui depois de não terem mais para onde ir, é bem possível que a guerra já tenha acabado antes que soframos qualquer arranhão.
Aliviadas com o “cessar-fogo” um tanto mais razoável que o dos líderes mundiais, as senhoras e senhoritas retomaram as conversas triviais e o salão voltou à normalidade, por ora, com temas mais amenos.