(*) Walber Gonçalves de Souza
Todos os dias é a mesma coisa: sangue, tiro, murro, chutes… até que a morte se materializa, pouco importando se é civil ou militar. Triste assistir o que se vive. Assim me pergunto, qual será o limite da estupidez humana? Ou não terá limites? Será que nos transformaremos em monstros predadores exterminando-nos uns aos outros simplesmente para satisfazer um desejo mórbido de matar? Em nome de que convicções um ser humano executa seu semelhante?
Será que poderíamos resumir tudo em uma pequena resposta que se dá pelo simples prazer em matar. Tenho e prefiro acreditar que a questão é mais complexa e que perpassa pela falta de civilidade, algo que vem se tornando a cada dia uma realidade mais gritante. Parece que estamos retrocedendo, querendo e pensando que podemos fazer justiça com as próprias mãos. Criando assim, um retrato fiel do desprestigio das instituições governamentais, que se verifica pela inércia e inoperância do Estado.
A sociedade tenta justificar estes atos como catarse de algum sofrimento moral ou físico que o sujeito tenha sofrido em algum momento de sua vida e nos faz entender, nas entrelinhas, que isso serve de gatilho para desencadear os mais diversos tipos de agressividade. Mas prefere esconder a necessidade do aprimoramento das dimensões humanas.
Está se tornando corrente justificar a cultura da violência, a culpa é sempre do outro, que insistimos em dizer que dissemina o ódio. E nós, será que agimos diferente, ou disseminamos também?
Mas infelizmente, é o que mais existe em nossa sociedade, que diga-se de passagem, é uma sociedade doente, que não valoriza a própria essência humana. Soma-se a isso a banalização da vida pela banalização da violência. Vamos nos acostumando a ela por ser tão frequente no nosso cotidiano. Assistimos na mídia todos os dias o relato de atos violentos e não paramos mais para refletir sobre uma notícia ou outra; e quando paramos, o fazemos apenas no momento em que ela acontece e depois seguimos nossa rotina e continuamos assimilando mais e mais violência como se já fosse parte de nossas vidas. Todos os dias assistimos pessoas morrendo, ora num alagamento, outras soterradas sob a lama, mulheres assassinadas, o tráfico de drogas aliciando menores, pedófilos atacando nas redes sociais… e ainda continuamos nossa rotina sem questionamentos, sem discussões, sem responsabilizar os culpados, sem buscar soluções.
Vivemos tensos e amedrontados sem pensar que não estamos preparados para suportar emocionalmente tanta violência ou racionalizá-la a tal ponto de não sermos tocados por ela.
Não se cura a violência com medidas paliativas, e nem tão pouco existe meio termo para ela. Precisamos reagir senão viveremos eternamente entre lágrimas e sem saber se o próximo será um de nós.
(*) Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.