segunda-feira, outubro 7, 2024
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Ernesto Araújo se recusa a pedir desculpas para lideranças judaicas

O chanceler divulgou um texto citando os campos de concentração nazistas ao criticar o isolamento social

BRASÍLIA – O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, causou indignação em líderes e movimentos judaicos pelo mundo. Isso porque o chanceler fez um texto em seu blog pessoal, no último dia 22, comparando o isolamento social à campos de concentração nazistas.

A afirmação gerou uma série de críticas ao ministro, e lideranças pediram uma retratação. Em seu Twitter, nesta quarta-feira (29), Ernesto ignorou a cobrança ao pedido de desculpas e criticou o jornal The Times of Israel por, segundo o chanceler, fazer uma “crítica injusta e completamente equivocada” do que ele escreveu em seu blog pessoal.

“No meu artigo, chamei a atenção, com indignação, para o trecho do livro em que Zizek banaliza o Holocausto, quando ele elogia o lema colocado à porta de Auschwitz, ‘Arbeit Macht Frei’ [o trabalho liberta]”, escreveu Ernesto.

O texto publicado pelo chanceler é uma critica a um livro escrito pelo filósofo e psicanalista esloveno Slavoj Zizek.​ Sob o pretexto de uma afirmação de Zizek, segundo o qual os nazistas fizeram um “péssimo uso” do lema “o trabalho liberta”, gravado em alemão na porta do campo de concentração em Auschwitz, Ernesto escreveu: “Os comunistas não repetirão o erro dos nazistas e desta vez farão o uso correto. Como? Talvez convencendo as pessoas de que é pelo seu próprio bem que elas estarão presas nesse campo de concentração, desprovidas de dignidade e liberdade”.

Em 2019, durante visita a Jerusalém, o ministro afirmou que uma nova vertente de pesquisadores vê semelhanças entre o movimento nazista e a extrema esquerda e sugeriu que as pessoas “estudem” e “leiam a história de uma perspectiva mais profunda”.

Lideranças judaicas exigem desculpas

Nesta terça-feira (28), o Comitê Judeu Americano exigiu um pedido de desculpas do ministro. “Essa analogia usada por Ernesto Araújo é profundamente ofensiva e totalmente inapropriada. Ele deve se desculpar imediatamente”, escreveu a associação no Twitter.

A Confederação Israelita do Brasil também repudiou um comentário do chanceler brasileiro. “Não há comparação possível entre uma medida sanitária, adotada em todo o mundo para combater uma pandemia, a uma ação persecutória e racista contra uma minoria inocente, que culminou com o extermínio de 6 milhões de judeus na Europa. Esperamos uma retratação imediata”, diz a nota,

O Instituto Brasil-Israel enviou uma nota à Folha de S. Paulo dizendo que, ao colocar os campos de concentração nesses termos, Ernesto “anula e relativiza a memória do Holocausto. E ainda pior, acaba por reproduzir a lógica nazista: transformar os campos da morte em fábricas do esquecimento”.

Em entrevista ao jornal israelense The Times of Israel, o brasileiro Ariel Krok, membro do comitê diretor do Corpo Diplomático Judaico do Congresso Judaico Mundial, disse que a declaração de Ernesto “é de mau gosto, perigosa e demonstra completa ignorância do assunto”.

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