Cidades

Subnotificação gera incerteza sobre avanço do coronavírus em Ipatinga

Governo do Estado enviou apenas 124 kits de testes em 1 mês e resultados da Funed demoram de 15 a 20 dias, comprometendo planejamento e estratégias de combate à epidemia

IPATINGA – Com apenas 124 kits de testes enviados no período de 1º de março a 2 de abril pelo governo do Estado e uma demora de 15 a 20 para divulgar os resultados dos testes realizados Fundação Ezequiel Dias (Funed), Ipatinga pode viver uma explosão de casos de Covid-19 quando os exames para detectar os casos de contaminação começarem a ser feitos de forma mais massiva. Por enquanto, apenas os casos mais graves são testados. O último boletim epidemiológico divulgado pela Prefeitura de Ipatinga, em 1º de abril, contabilizava 1.148 casos em investigação, 1 caso confirmado, 92 descartados e 23 internados sob suspeita (70% idosos).

Além de significar um grave risco que pode aumentar a propagação do vírus e levar à morte dezenas de pessoas, o atraso do governo estadual e federal em socorrer os municípios com insumos como máscaras, luvas, respiradores, kits de testes, profissionais de saúde, etc, também dificulta o planejamento das ações e as estratégias de combate ao novo coronavírus. A flexibilização ou não das medidas de isolamento social, por exemplo, só podem ser tomadas com informações mais precisas sobre a situação.

PROPAGAÇÃO

O risco de uma considerável expansão no número de casos não é descartado pela Secretaria Municipal de Saúde de Ipatinga, à medida em que novos resultados forem chegando e novos testes forem feitos. Embora não tenha estrutura para atender um volume maior de casos e nem UTIs para os doentes em estado mais grave, a Prefeitura de Ipatinga está desenvolvendo alternativas para o isolamento das pessoas infectadas pelo novo coronavírus. Entre estas alternativas está a instalação de um hospital de campanha. Acordo com o Ministério Público também vai liberar recursos da instituição para compra de kits de testes.

Indagada se o município tem condições de atender a um grande número de infectados pelo coronavírus e tratar a Covid-19, a Secretaria Municipal de Saúde, responde que o Brasil não tem, consequentemente o município também não. A administração está adotando medidas para tentar mitigar a situação, informa.

PROJEÇÕES ESTADUAIS

A incapacidade do governo estadual para dar resposta rápidas e efetivas ao avanço do coronavírus pode ter trágicas consequências não apenas em Ipatinga, mas em toda Minas Gerais. Há três mortes confirmadas por coronavírus no Estado até agora, 314 infecções diagnosticadas para Covid-19 e 34.018 casos suspeitos analisados pela Secretaria de Saúde do Estado. Outros 45 óbitos estão sendo investigados por ligação com coronavírus. O boletim que traz esses dados foi publicado na quarta-feira (1º) pela SES. Entretanto, plataforma desenvolvimento pela UFMG estima que o número de casos supere 528 neste sábado. Com as subnotificações previstas, o índice deve superar 1000 pessoas contaminadas pelo Covid-19.

Outro estudo da UFMG prevê que em Minas Gerais, o pico do surto de Covid-19 deverá ocorrer entre 27 de abril e 11 de maio, e a estimativa é de que haja, então, 2,5 milhões de infectados no estado, que tem cerca de 21 milhões de habitantes. Os dados resultam de estudo realizado pelo professor Rafael Ribeiro, do Grupo de Políticas Públicas e Desenvolvimento (GPPD), vinculado à Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG.

Ipatinga admite limitações para enfrentar Covid-19

Em entrevista feita remotamente, via WhatsAap, com a secretária Municipal de Saúde, Érica Dias, as resposta foram lacônicas, mas dão uma dimensão da atual situação da cidade para enfrentar a epidemia do coronavírus.

A íntegra da entrevista é a seguinte :

PERGUNTA – Qual tem sido o papel e como o Governo do Estado tem contribuído no combate ao coronavírus?

RESPOSTA – Até então o Governo do Estado tem contribuído apenas com os exames da FUNED

P – Qual a real quantidade de testes enviados ao município?

R – O município recebeu 124 kits por parte do Governo do Estado desde 1° de março até o dia 02/04 para realização de testes na rede SUS.

P – Qual o tempo médio de espera para ter um diagnóstico final?

R. Entre 15 e 20 dias

P – Até a data de hoje temos mais de mil casos suspeitos e apenas um confirmado. Há algum risco de haver um aumento considerável no número de infectados à medida que os resultados saírem?

R – Sim.

P – Se houver tal aumento, o município tem estrutura para atendê-los?

R. O Brasil não tem, consequentemente o município também não. A administração está adotando medidas para tentar mitigar a situação.

P – Caso haja tal aumento, o governo municipal manterá o isolamento vertical ou ele será abrandado?

R – Estamos trabalhando conforme recomendações da Organização Mundial da Saúde, Ministério da Saúde, e a Deliberação 17 do Governo do Estado (que dispõe sobre medidas emergenciais de restrição e acessibilidade a determinados serviços e bens públicos e privados cotidianos a serem adotadas pelo Estado e Municípios, enquanto durar o estado de calamidade pública no âmbito de todo o território do Estado).

P – O que pode ser feito para que os testes tenham mais abrangência e rapidez no diagnóstico?

R – Esta ação depende fundamentalmente do Estado.

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